O Brasil inteiro acompanhou a tragédia do garoto Bernardo Boldrini, de 11 anos, encontrado morto em um matagal de Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul. Ao que tudo indica, ele foi assassinado com uma injeção letal e seu pai, sua madrasta e uma assistente social amiga do casal são os principais suspeitos deste crime.
A assistente social Edelvania afirma ter recebido da madrasta, a enfermeira Graciele Ugolini Boldrini, R$ 6 mil como adiantamento de um total de R$ 20 mil, para participar do crime. Ela também afirmou que a madrasta foi quem aplicou a injeção letal no garoto e as duas enterraram o corpo do menino. A mãe do garoto, Odelaine, morreu em 2010, dentro do consultório do marido, com um tiro na cabeça. O caso foi encerrado como suicídio e, na época, o marido trabalhava com a enfermeira Graciele, com quem se casou mais tarde e, hoje, é acusada de matar seu filho, de comum acordo com o pai.
Dentro deste cenário dantesco, o que chama a atenção é o seguinte fato: o garoto chegou a procurar, por conta própria, o Centro da Defesa da Criança e do Adolescente, órgão ligado à Prefeitura, e o caso terminou no Ministério Público da cidade de Três Passos. Na ocasião, o garoto pediu para não mais morar com o pai e a madrasta, e indicou duas famílias com as quais gostaria de morar, uma delas a da sua avó materna. Na época argumentou que sua vida era marcada pelo desamor e indiferença do pai e da madrasta. O que ele não sabia era que esse desamor terminaria em assassinato pouco tempo depois.
O juiz da Vara da Infância e da Juventude intimou os pais e suspendeu o processo. Aquilo que parecia ser uma negligência afetiva mostrou, pouco tempo depois, que seria um horrendo caso de ódio a uma criança indefesa.
A lição importante deste caso é que uma criança gritou por socorro às autoridades competentes e estas não lhe deram ouvidos. Todos os que participaram ativamente neste caso hediondo são culpados e merecem um castigo exemplar, mas também são culpados todos aqueles que lavaram as mãos e deixaram acontecer essa tragédia. Para que serviu a Vara da Infância, o Ministério Público e tantos outros envolvidos que não deram ouvidos a essa criança?
Eles poderiam ter evitado esse assassinato, mas foram omissos e essa omissão custou uma vida. Que a morte de Bernardo pelo menos sirva de alerta a todos aqueles que estão aí para defender as nossas crianças. Esses também são culpados, pois poderiam ter feito algo e olharam para o outro lado.
*escritor e autor
de diversos livros