Jesus sob ao céu e promete o espírito consolador aos apóstolos. No último momento na hora da despedida de Jesus, os apóstolos, segundo o evangelista, ainda não tinham entendido a trajetória da vida do mestre, dentro da lógica dos desígnios do Pai. Jesus teve, então, num último esforço, que quis abrir a inteligência para que compreendessem as Escrituras.
E assim como Deus se preocupou com nossos primeiros pais, cobrindo-os com folhas de figueiras, antes de expulsá-los do paraíso, assim também Jesus antes de se afastar para sempre, de retorno à casa do Pai numa conquista inversa ao caminho feito por Adão e Eva, promete-lhes o Espírito consolador para que se sintam revestidos da força do alto.
E então partiu, separou-se deles é foi elevado ao céu. Esta é a festa de hoje, a festa da ascensão do Senhor. O seu significado maior reside neste paralelo e inversão de direção entre o primeiro e segundo Adão.
Enquanto o primeiro foi expulso do céu, o segundo gloriosamente toma posse dele. O primeiro afasta-se do convívio de Deus, o segundo assenta-se a sua direita e é revestido do poder sobre vivos e mortos. O primeiro é condenado a ganhar o pão com o suor de seus rosto, o segundo é reconhecido por anjos e demônios e estabelecido na glória da Santíssima Trindade, refaz-se a benção da criação. O anjo exterminador é retirado da porta do paraíso.
Jesus, porém, no mistério de sua ascensão, parece desafiar-nos a dar um passo mais a frente. Trata-se de deixar para atrás o tempo da esperança e fixar os olhos no que virá depois, para além da esperança quando a esperança não mais terá o direito da subsistir.
É claro que este não é convite de largar o trabalho, a jogar as armas, a pedir demissões de nossos compromissos. É convite a não perder de vista a meta final, a herança prometida.
Importante é o nosso testemunho de fé e esperança. Ele é como que a mão de Deus estendida aos corações sofridas, as mentes perturbadas às consciências entorpecidas. São irmãs e irmãos nossos aguardados que lhes apontemos razões para viver, motivações para esperar, coragens para vencer o medo da morte.
Mas nós só temos uma única razão para viver e esperar, uma só arma para vencer o medo da morte. É que, para além de nossos mais ardentes desejos e de nossas mais ousadas esperanças, está ele. O Cristo ressuscitado esperando por nós.
O último pedido de Jesus é: vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos. E a partir da Galileia que essa ordem se cumprirá.
O Evangelho mostra duas formas de realizar a ordem de Jesus. A primeira é batizando em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, ou seja, fazendo com que todas as pessoas participem da comunidade e se comprometem com a prática da justiça.
A segunda é, através da catequese, levar as pessoas a observar tudo o que Jesus ensinou. Na verdade, conta muito pouco uma pessoa ser batizada ou ir regularmente à missa. O mais importante é ser um cristão com testemunho, colaborando com o projeto de Jesus.
Assim podemos dizer que todos os que colaboram para que haja mais vida na sociedade estão colaborando com o projeto de Jesus, não importa-se são cristão ou não, importa é o que une, não o que nos separe.
É em Jerusalém que os discípulos serão revestido da força do alto, ou seja, permanecendo fiéis a missão de Jesus é que os discípulos continuarão animados para trazer a vida para todos. Essa força do alto é o Espírito do Pai e de Jesus, que está presente em todas as comunidades que lutam em favor da vida.
Jesus é levado para o céu. Enquanto é levado, ele abençoa os discípulos. Abençoando, ele dá a vida. Morrendo e ressuscitando, ele volta para o Pai. Esta é também a nossa missão: transformar a nossa realidade de morte em realidade de vida, vencendo a morte e unindo-se de verdade a Deus.
Com a força do Espírito de Deus é preciso ser testemunho do Reino, participar da missão de Jesus Salvador, apressar a vinda do Reino, viver a graça de ser filhas e filhos de Deus Pai, mãe e irmãs e irmãos uns dos outros, viver no dia-a-dia o mistério da morte e ressurreição de Jesus, mistério de Deus presente no meio de nós.
Missão é nossa vida toda do nascer até a morte por dons de Deus recebida. É buscar a descoberta desse Reino no dia a dia, é seguimento desse Jesus que nos diz: Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
É escuta do Espírito que sopra onde quer e nos faz descobrir o Reino no meio de nós nos lugares menos esperados, nos ditos últimos lugares, bem no meio dos excluídos e esquecidos da sociedade.
Nossa missão para que todos tenham vida e vida com fartura. Trabalhar e lutar com coragem, sem desânimo, sem esmorecer, por uma sociedade nova. Onde crianças não morram tão cedo, por desnutrição ou por falta de cuidados médicos. Onde jovens não morram por falta de ideias, mas também por falta de uma escola valiosa e empolgante, de um bom emprego de esperanças concretas de vida.
Queremos uma sociedade onde mulheres não definhem sob o peso da doença, do cuidado dos filhos. Onde possam ter carinho, desabrochar na vida com todas as potencialidades. Onde todos tenham casa, comida, instrução, lazer e alegria, descobrindo que vale a pena viver, para todos juntos fazemos a vida crescer.
Se reconhecemos que somos poucos a mãos à obra e vamos partir para a missão. Se lamentarmos que somos fracos, vamos buscar na oração nossa força.
Não somos nós, mas é o Espírito, força e ternura de Deus, que pode fazer milagres, e Deus dá seu Espírito a quem o pede na oração.
*Contador; coordenador das Comunidade Eclesial de Base (CEB´s); ministro da palavra e celebração da Igreja Mariz Nossa Senhora Aparecida.