Quando vemos os trabalhadores reclamando das suas condições sociais e a eterna luta em busca de salários dignos, ficamos imaginando quão ingrata é a vida do nosso povo. Alegre por natureza, festivo por costume e dotado de inesgotável mania de ser otimista, o brasileiro vai, aos poucos se tornando um povo taciturno, arredio e descrente.

Vai-se distante o tempo em que ouvíamos que este era o país do futuro. O futuro chegou, pelo menos para nós que atingimos aquela que seria a tal   “certa idade”. Certa? Diremos, errada! O que temos hoje, e que no passado era classificado como futuro brilhante é, na verdade, sinônimo de frustração, algo muito diferente do que esperávamos. Somado a isso, vem à mente a convicção de que “idade certa” é aquela em que olhamos o horizonte e, mesmos nas borrascas ainda encontramos algo de poético, algo de belo a esperar pelos nossos passos.
Nós, da “idade errada”, acumulamos conhecimentos, paciência e, em muitos casos, vícios, doenças e uma pontinha de desconfiança. Desconfiança para com o que chamamos de amanhã, desconfiança para com o desrespeito que toma conta dos mais jovens, descrédito para com aquilo que nos foi prometido e que, hoje, nos dá a certeza de que não passaram de promessas.
A vida vai se mostrando cruel quando deparamos com os paradoxos, com as contradições, com os objetivos não alcançados, com as frustrações, com os desencantos. Desencantos para com nós mesmos, integrantes da classe política, da classe trabalhadora, da classe estudantil, da família, da religião. Desencantos que se acentuam quando vemos o quando a sociedade apodreceu e empobreceu, economicamente e culturalmente.
Nesse paraíso de contradições temos um país de famintos que alimenta esportistas privilegiados; jovens correndo contra o tempo em busca do sonhado sucesso no esporte, caminho mais curto para a fuga da miséria. Escolas cheias de crianças com barrigas vazias; escolas vazias de professores e cheias de crianças sem esperança; escolas cheias de professores com bolsos vazios, empurrados por um sacerdócio que se esvai, aos poucos. Algo irreal, marcante, ingrato.
Face ao exposto, temos duas alternativas: a primeira, extremamente pessimista, seria adotarmos o conformismo de que não temos mais solução, tornando verdadeira a frase de Nelson Rodrigues sobre o nosso “complexo de vira-latas”. E esse conformismo nos levará à condição de sociedade de mentira.
A segunda seria a mais lógica e extremamente necessária: arregaçarmos as mãos e, unidos governo e sociedade, caminharmos na mesma cadência na recuperação do tempo perdido. Seriam necessárias medidas drásticas e talvez doloridas para todos nós, que nos deixamos levar e fomos acumulando vícios e entendendo como normal a nossa somatória de carências.
O quadro é sério, mas existe a possibilidade de mudanças. O primeiro passo deverá ser a implantação de um intenso projeto nacional de educação, alicerçado em efetivo programa de gestão de recursos, algo que mude a mentalidade como um todo. Estaremos formando cidadãos e essa será a primeira alternativa para impedir que as meias verdades continuem mascarando a nossa realidade. Os passos seguintes serão apenas consequências.

*ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo.