O futebol sempre fez parte do dia-a-dia dos brasileiros, de uns mais, outros menos. Porém, em época de Copa do Mundo, até quem não liga muito para os jogos de quarta e domingo acaba se rendendo às quatro linhas e torcendo pelo Brasil, mesmo sem entender bem as regras. Em um país que tem o futebol e o carnaval como parte da cultura popular, não é possível renegá-los. É uma questão de identidade.

Se a Copa já movimenta o Brasil quando acontece em outro país, imagina tendo os jogos no nosso quintal? Mesmo quem não gosta e optar por não assistir ao campeonato acabará afetado pelos jogos, já que tudo girará em torno deste calendário, especialmente entre junho e julho. Trânsito, horários, expediente bancário, feriados.
Em relação às escolas, é natural que haja uma mudança de calendário, mas sem prejudicar os estudos, claro. Será um evento tão grande que crianças e jovens estarão inertes no tema. Já que não dá para ser radical e tentar proibir que se fale sobre isso no colégio, nada melhor do que aproveitar assuntos relacionados para trabalhar em sala de aula.
O mesmo vale para o álbum da Copa, que é febre até mesmo entre os adultos. Melhor que ignorar o fato, que tal organizar uma mesa de trocas das figurinhas repetidas na hora do intervalo? Essa simples solução integra os alunos de diferentes séries e evita tanto que a brincadeira atrapalhe as aulas quanto que haja um consumismo excessivo.
No ensino fundamental pode ser feito, por exemplo, um projeto interdisciplinar que reúna os alunos em grupos para fazer um levantamento completo sobre as características locais de cada uma das doze cidades-sede no país, seu clima, região geográfica e hábitos. Depois, o trabalho pode ser apresentado em seminários e ter seu resultado exposto nos corredores na escola para todos conhecerem um pouco mais sobre as localidades. Além de divertido, será muito útil.
Entre os jovens do ensino médio, os professores podem aproveitar alguns jogos já definidos para debater importantes temas. Uma disputa entre os times da Inglaterra e da Argentina, por exemplo, pode suscitar um debate sobre a Guerra das Malvinas, o conflito entre Reino Unido e Argentina pelo domínio das Ilhas que começou em abril de 1982, quando o ditador argentino aproveitou uma briga histórica entre os dois países pelo território ocupado pelos ingleses desde 1883 e invadiu a região.
O importante é que se cumpram os 200 dias letivos exigidos na lei. O ideal é que as escolas antecipassem as férias para o mês de junho a fim de evitar o cancelamento das aulas em virtude dos jogos. Porém, se alguns colégios não conseguirem, há opções para repor as aulas perdidas, já que não faz sentido manter os meninos na escola durante os jogos do Brasil. O melhor é dispensá-los.
As escolas têm autonomia para reorganizar seu ano letivo, basta enviar a proposta do novo calendário para a aprovação do Conselho Municipal de Educação. A reposição dos dias perdidos pode ser feita aos sábados, antes das férias do meio do ano, ou no final de 2014, estendendo o segundo semestre em alguns dias quando normalmente já começaria o recesso. Lembrando que deve-se repor exatamente as disciplinas perdidas, então não vale cancelar um dia que teria português e matemática e marcar aulas de artes e educação física no lugar. É também bacana propor trabalhos para serem feitos em casa para complementar as atividades presenciais.
Com a orientação da escola e da família, até mesmo quem está se preparando para prestar vestibular não será prejudicado. Basta se programar para parar os estudos apenas na hora do jogo, mantendo a dedicação nos momentos restantes. Como tudo na vida, o importante é saber dosar e equilibrar os momentos de obrigação e de lazer.
 
*pedagoga, mestra em Educação e diretora de serviços educacionais da Saraiva