Equipes de resgate trabalham em meio aos destroços da queda do voo MH17 nesta sexta-feira (18) perto de Shaktarsk, no leste da Ucrânia (Foto: Dominique Faget/AFP)
Primeiro veio uma grande explosão que fez sacudir as casas e prédios, depois começaram a chover corpos. Um dos cadáveres atravessou o telhado frágil da casa de Irina Tipunova nesta tranquila aldeia, logo após o voo MH17 da Malaysia Airlines explodir no céu da Ucrâniaoriental, onde os separatistas pró-Rússia lutam contra as forças do governo.
“Houve um barulho alto e tudo começou a sacudir. Então objetos começaram a cair do céu”, disse a aposentada de 65 anos diante de sua casa.
“E então eu ouvi um barulho e ela caiu na cozinha, o telhado foi quebrado”, disse, mostrando o buraco feito pelo corpo quando caiu através do teto da cozinha.
O corpo nu da mulher morta ainda estava dentro da casa, ao lado de uma cama.
A cerca de 100 metros da casa de Irina, mais dezenas de corpos estavam nos campos de trigo, onde o avião caiu na quinta-feira, matando todas as 298 pessoas a bordo.
Ainda visivelmente abalada pela experiência, Irina disse: “O corpo ainda está aqui porque eles me disseram para esperar especialistas virem buscá-lo.”
Outra moradora local com cerca de 20 anos e que não quis dar seu nome, disse que correu para fora de casa depois de ouvir o avião explodir.
“Eu abri a porta e vi as pessoas caindo. Uma caiu na minha horta”, disse ela.
Não foram apenas corpos que caíram do céu. Pedaços de metal, peças de bagagem e outros detritos desabaram no chão nesta área agrícola a cerca de 40 quilômetros da fronteira com aRússia.
A parte da frente do avião caiu em um campo de girassóis a cerca de um quilômetro da casa de Irina. Partes da fuselagem e partes de corpos estavam espalhadas por quilômetros ao redor.
Equipes de resgate dizem ter encontrado a maior parte dos cadáveres, alguns deles intactos, outros despedaçados. Alguns foram empilhados juntos, mas outros ficaram onde caíram, com os locais identificados por varas fixadas no solo com tecidos brancos anexados.
Alguns dos cadáveres foram embrulhados em folhas de plástico quase transparentes, com os cantos presos com pequenos montes de terra ou pedras. Algumas pernas ficaram descobertas. Em um deles, um cravo vermelho foi colocado por cima.
Entre os mortos estão muitas mulheres e crianças, incluindo um menino de cerca de 10 anos ainda caído ao lado da cabine do avião, o seu pequeno corpo coberto por uma folha de plástico.
Depois de 24 horas da queda do avião, o caos ainda imperava no local. Sapatos espalhados, remédios que caíram de compartimentos do avião, malas vazias e artigos de vestuário espalhados nos campos.
Em um esforço para limpar a cena, partes de corpos foram retiradas da estrada esburacada onde caíram, junto às partes da fuselagem e asas com o logotipo vermelho e azul da Malaysia Airlines.
Equipes de resgate, em reduzido número na quinta-feira, começaram a chegar em peso na sexta-feira, montando suas bases em duas grandes tendas. Jornalistas e moradores da região vagavam livremente pelas cinzas e destroços.
Combatentes rebeldes em uniforme de combate observavam os procedimentos nervosamente. Kiev acusou-os de derrubar o avião, mas eles negam e prometem não impedir a realização de uma investigação internacional.
O som constante de morteiros e disparos à distância era um alerta de que ainda não terminou o conflito entre os rebeldes separatistas e as forças do governo, que tentam acabar com três meses de revolta contra as autoridades de Kiev.
Destroços do avião da Malaysia que caiu na quinta (17) continam no local da queda na Ucrânia (Foto: Dmitry Lovetsky/AP)