Jesus diz que o reino do céu é como um tesouro escondido no campo (Mt. 13, 44-52). Como podemos encontrar hoje o reino de Deus?
O reino de Deus está perto de nós, mas como que escondido. Ele está nas ações e palavras de Jesus, o mestre da Justiça e para descobrir esse reino só tem um caminho: realizar a justiça de Deus. Assim, o reino só se revela quando seguimos as ações e palavra de Deus.
Quando Jesus diz, o reino chegou, ele não quer dizer que o reino estava chegando só naquele momento, mas sim que já estava aí. Aquilo que todos esperavam há tanto tempo, já estava presente no meio do povo, e eles não o sabiam, nem o percebiam. Jesus o percebe, e era exatamente esta presença escondida do reino de Deus no meio do povo, que ele queria anunciar aos pobres e excluídos da sua terra, lá na Galiléia.
O início da atividade de Jesus é algo que impressiona. Jesus não se dirige a um pequeno grupo nem cria uma elite iluminada. O destinatário da boa nova é o povo todo, sobretudo os pobres, os marginalizados, os excluídos. E só podia ser assim. Pois a boa nova do reino não era uma doutrina a ser decorado, nem um código de moral a ser observado. Não era algo de fora a ser levado para dentro do povo, mas era uma palavra amiga de Jesus que, de repente, tirava o véu da realidade e mostrava ao povo a riqueza de Deus, que ele já possuía em sua vida, mas ainda não conhecia.
O Reino de Deus já está no meio de vocês, Jesus queria que o povo tomasse consciência desta presença, conhecesse a riqueza que possuía dentro de si e se alegrasse com isto. Era um direito que o povo tinha. Felizes de vocês pobres, porque o reino de Deus é de vocês.
O pobre entra no Reino de Deus não pelo simples fato de ser pobre, mas porque a pobreza, apesar de ser obra dos homens e rejeitada por Deus, revela uma condição universal do homem diante de Deus. Os Salmos e os profetas não deixam de salientar isso e o Evangelho o mostra na parábola do fariseu e do publicano.
O espírito do pobre é a humildade, a esperança e o desprendimento, atitudes próprias de quem escuta a Deus. Na parábola do semeador, as preocupações do rico impedem que a semente frutifique e de novo se fala nos cem por um que Cristo promete aquele que abandonando tudo, o seguirem.
Quando Cristo dá provas que o reino esperado já foi inaugurado em sua pessoa e de que ele é o Messias, diz aos discípulos de João: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregados o Evangelho.
Os milagres de Cristo não são nunca o argumento da nossa fé, mas símbolos que dirigem a atenção para o estilo inconfundível da ação de Deus, que é aqui, o anuncio da libertação aos pobres, que agora andam, vêem, caminham e ouvem esta mensagem.
Jesus estimula as pessoas a se firmarem e a terem confiança em si. Assim, ele elogia o escriba quando este chegou a entender que o amor a Deus e ao próximo é o centro da lei de Deus. Pede a Jairo, o pai da menina falecida, que não desista de crer. Anima a mulher que sofria de fluxo de sangue, encoraja a dois cegos, e revela o valor da ação da viúva.
Pelas suas conversas e ações, Jesus desperta no povo uma força adormecida, que o povo não conhecia. Em Jairo nasce uma força que vence a morte. Na mulher do fluxo de sangue, nasce uma força que a purifica. O mesmo acontece com o cego Bartimeu e com o pai do menino epilético. Tanta gente que, só pela fé em Jesus faz brotar vida nova dentro de si. Enquanto em Nazaré, por causa da incredulidade do povo, nada feito.
A semente do reino já estava aí, no meio do povo. Estava escondida como fogo em brasa debaixo das cinzas das observâncias sem vida. Jesus o percebeu e o revelou. Ele soprava nas cinzas e o fogo acendia. Por exemplo, quando Zaqueu diz: metade dos bens dou aos pobres, e o que roubei devolvo quatro vezes mais, Jesus declara! Hoje a salvação entrou nesta casa. Este também é um filho de Abraão.
O reino acontece, quando o ser humano começa a partilhar os seus bens. Aí ele traz a salvação para dentro de sua casa e se torna filho de Abraão. Outro exemplo: pelas parábolas, Jesus ajudava o povo a refletir sobre as coisas da vida e a descobrir nelas os sinais da presença do Reino.
Há muitas maneiras de os homens podem demonstrar que o Reino de Deus já começou. Nos laços do amor e da solidariedade que unem a pequena comunidade, a família, os trabalhadores organizados; defendendo os direitos dos pobres e dos mais humildes, abrindo os olhos dos simples, denunciando as injustiças dos poderosos, anunciando e pondo em prática uma sociedade mais justa e humana.
*Contador, coordenador da Comunidade Eclesial de Base (CEB´s), ministro da palavra e celebração da Matriz Nossa Senhora Aparecida, em Dracena.