Elas têm oito perninhas — podendo ser dos mais minúsculos tamanhos até de dimensões assustadoras maiores do que a sua mão — e muita, mas muita gente morre de medo delas. Sim, as aranhas têm uma grande horda de pessoas que não gostam nem de imaginar que elas existam.
De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, as fobias afetam mais de uma em cada dez pessoas nos Estados Unidos e, desses indivíduos, até 40% dos medos estão relacionados a insetos, aranhas, ratos, cobra e morcegos.
É compreensível ter esse pavor dos aracnídeos. Mas, como explicar tanto medo? Seria por um trauma de uma picada anterior, um filme, uma “herança” da família, um receio preventivo ou tudo isso junto?
O site The Conversation tentou esclarecer porque a aracnofobia existe em algumas pessoas, mostrando alguns dados de pesquisa e se existe algo a ser feito para amenizar o medo.
Trauma de uma picada?
Os psicólogos acreditam que uma das razões pelas quais as pessoas temem aranhas é por causa de alguma experiência anterior direta com os aracnídeos que incutiu o medo nelas. Isto é conhecido como o ponto de vista de “condicionamento” de aracnofobia.
Em 1991, Graham Davey, da City University de Londres, liderou um estudo para entender mais sobre este ponto de vista. Ele entrevistou 118 estudantes universitários, questionando-os sobre seus medos de aranhas. Cerca de 75% das pessoas da amostra tinham moderadamente ou severamente medo de aranhas, sendo que a maioria dessa porcentagem era do sexo feminino.
O pesquisador também afirmou que pode haver uma influência familiar nesse medo de aranhas. Aquelas pessoas com medo severo dos aracnídeos relataram ter um membro da família com temores semelhantes, mas o estudo não foi capaz de separar os fatores genéticos de os ambientais.
O que é surpreendente é que Davey descobriu que aracnofobia não era o resultado de específico de um “trauma de aranha”, o que significa que não havia suporte para o ponto de vista do condicionamento. Mas, então, o que faz com que as aranhas sejam tão assustadoras para tantas pessoas?
Ou o “conjunto da obra”?
Podemos citar dezenas de motivos como: sua aparência, o medo de ser picado e morrer, agonia de imaginar o bicho em sua pele, entre outros. Mas, certamente, a ameaça de ser mordido é uma das mais cogitadas. O pesquisador Davey observou essa questão também.
Para ele, não é tanto o medo de ser picado, mas os movimentos erráticos das aranhas e aquele monte de pernas é o que apavora. “Medos de animais podem representar um conjunto funcionalmente distinto de respostas adaptativas que foram selecionadas durante a história evolutiva da espécie humana”, disse Davey.
De acordo com o The Conversation, uma crítica ao trabalho de Davey é que talvez o “condicionamento” não pode ser tão facilmente descartado, pois o evento traumático com a aranha pode ter ocorrido durante a infância e ele pode ficar incrustado profundamente na memória.
Em 1997, Peter Muris e seus colegas da Universidade de Maastricht tentaram observar esse efeito através de outra pesquisa. Não surpreendentemente, eles descobriram que, se você der às crianças uma lista de coisas que podem ser assustadoras para elas, a maioria marca itens como não respirar, ser atropelado por um carro, explosão de bombas, incêndios ou assaltantes como muito importantes.
Curiosamente, quando foi disponibilizada para as crianças uma opção livre para dizer aos pesquisadores que tipos de coisas que elas mais temem, tanto os meninos quanto as meninas relataram “aranhas” como o primeiro lugar dos medos — o segundo foi o medo de ser sequestrado, seguido por predadores em terceiro e em quarto lugar ficou o escuro.
Esse resultado foi surpreendente. Entre tantos medos que as crianças podem relatar, elas colocaram o de aranha em primeiro lugar. Dessa forma, em contraste com o trabalho de Davey, Muris descobriu que as crianças que tinham mais medo de aranhas poderiam relacionar esse medo a eventos específicos. Talvez o condicionamento fosse o caminho para aracnofobia.
Genes ou ambiente?
Mas antes que possamos ter certeza de que o condicionamento seja a principal razão, é preciso garantir que os fatores genéticos não estejam envolvidos também. Em 2003, John Hettema, do Instituto Psiquiátrico e Comportamental Genético de Virginia, e seus colegas conduziram estudos com gêmeos para desmembrar os fatores genéticos.
Os gêmeos idênticos têm DNA idênticos, mas tendem a viver em ambientes diferentes na vida adulta, o que permite aos pesquisadores descobrir como os genes afetam o comportamento. Hettema registrou as respostas dos gêmeos sobre imagens “relevantes para o medo” (como aranhas e cobras) em comparação com as imagens de “medo-irrelevante” (círculos ou triângulos).
A análise estatística dos resultados revelou que as influências genéticas foram “substanciais”, o que significa que a aracnofobia é hereditária. Ou seja, você não precisa necessariamente conhecer ou passar por uma experiência ruim com aranhas para ter medo delas. Mas pode haver uma técnica simples para reduzir o medo.
Em 2013, Paul Siegel, da Universidade Estadual de Nova York, e sua equipe publicaram um estudo que ajudou alguns voluntários a diminuírem a sua aracnofobia. Primeiro, eles separaram os voluntários em grupos fóbicos e não-fóbicos, com base em testes de medo com as aranhas.
Depois de uma semana de fazer estes testes, os dois grupos foram expostos a imagens de flores ou aranhas, mas a exposição foi por muito pouco tempo. A ideia era que as pessoas não conseguem reconhecer as imagens de forma consciente, mas tem um efeito sobre o seu subconsciente.
Quando os testes de medo foram realizados novamente em ambos os grupos, aqueles que temiam as aranhas haviam se tornado menos medrosos. Enquanto outras conclusões gerais ainda precisam ser estudadas, é possível para quem tem medo se alegrar com os resultados do estudo de Hettema. Ou, pelo menos, de acordo com o último estudo, compartilhar imagens de aranhas pode ajudar a reduzir o pavor.