Mais uma vez a autora Glória Perez traz à tona um assunto polêmico. Em Dupla Identidade a autora aborda a psicopatia. Mas ao contrário do que se pensa, psicopatas não são só os serial Killers, como o personagem da minissérie, que chegam ao extremo de matar literalmente suas vítimas.
Segundo a médica Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro Mentes Perigosas – o Psicopata Mora ao Lado, existem os psicopatas leves e moderados, que matam os sentimentos e a autoestima de suas vítimas, e que estão soltos por aí disfarçados de bons moços, profissionais respeitáveis, homens acima de qualquer suspeita e “príncipes”, mas não menos perigosos que os serial killers. Podem ser seu namorado, seu vizinho, seu colega de trabalho, um amigo ou um parente.
Paralelamente à sua vida “normal”, escondem uma personalidade perversa, maldosa, geralmente viciados em pornografia, que para manter seu vício, são capazes de tudo. Usam suas vítimas e depois as descartam sem dó nem piedade, as destruindo emocionalmente, sem culpa e sem remorso. Na infância, já revelam traços dessa personalidade, fazendo “brincadeiras” maldosas com os irmãos, primos e animais de estimação.
Os psicopatas são intolerantes ao tédio ou a situações rotineiras. Por isso apreciam viver no limite, no conhecido “fio da navalha”. Envolvem-se com várias pessoas ao mesmo tempo, e quando as vítimas são comprometidas, adoram a sensação da adrenalina e da possibilidade de serem pegos. São infiéis, vingativos, sádicos e promíscuos. São lobos na pele de cordeiro.
Não tem empatia (jamais se colocam no lugar do outro), são extremamente narcisistas, e fazem qualquer coisa para sua satisfação. Escolhem a dedo suas vítimas, geralmente mulheres comprometidas, depressivas, carentes e com baixa autoestima (assim ficam no controle da situação), tornando-as cúmplices de seus atos, as usam e conseguem seu silêncio, porque ele tem certeza que elas não vão querer se expor. Eles tratam as pessoas como coisas que, quando não servem mais, são simplesmente descartadas. E viram o jogo com tanta habilidade que fazem as vítimas se sentirem culpadas por seus atos, eximindo-se de qualquer responsabilidade.
São mentirosos profissionais, trapacear e manipular são talentos inatos dos psicopatas, por isso conseguem enganar as pessoas com maestria. Se for necessário para esconder um malfeito, trocam o nome sem titubear. Camuflados de homens perfeitos, fazem suas vítimas acharem que encontraram o homem de suas vidas, as fazem pensar que são únicas e especiais. Mal sabem elas, que as enganam direitinho, mantendo outras ao mesmo tempo, com a mesma conversa e enganação. E para serem ainda mais convincentes sempre criticam as parceiras dos relacionamentos anteriores, deixando claro, que não deu certo porque a outra pessoa era muito ciumenta ou os traía. Mas a história é bem diferente…
Vivem num teatro, são verdadeiros atores da vida real, costumam ser espirituosos e muito bem articulados, com uma conversa divertida e agradável. Não economizam charme nem recursos que os tornem mais atraentes no exercício de suas mentiras. São tão espertos, que são capazes até de enganar os maridos que eles mesmos traem, se passando por inocentes e vítimas das circunstâncias. E quando estão na iminência de serem descobertos, se escondem geralmente num relacionamento “sério” ou numa religião, usando a igreja pra continuar mantendo sua aparência de bom moço.
E a autora Ana Beatriz faz um alerta: os psicopatas são incapazes de amar, não amam seus filhos, sua família, seus amigos (isso, se os tiverem, porque preferem amizades superficiais, não dando condições das pessoas os conhecerem quem realmente são). Infelizmente ainda não há cura ou tratamento para essa personalidade. E aconselha: o melhor a fazer, ao detectar um em sua vida (amorosa, pessoal, trabalho, amigo) é ficar o mais longe possível, mas bem longe. A maior parte dos psicopatas não pratica violência física ou delitos contra a lei. Mesmo assim, todos eles são capazes de arruinar a vida das pessoas ao seu redor, deixando-as emocionalmente em frangalhos, ao mesmo tempo em que posam para o restante do mundo como pessoas normais e de bem. Conhecê-los é a melhor saída para defender-se. Vale a pena ler o livro.

Paulo Vieira, profissional formado em Filosofia.