Realizou-se, em outubro de 1960, a última eleição direta, antes da ditadura militar. Foi um pleito singular que opôs o marechal Teixeira Lott, representante da situação, contra o fenômeno Jânio Quadros, dono de uma carreira política meteórica no estado de São Paulo. Sua vitória e posterior renúncia desencadearam uma série de acontecimentos que desembocaram no golpe de estado de 31 de março de 1964.
* O marechal Henrique Baptista Duffles Teixeira Lott, ex-ministro que havia se notabilizado por garantir a posse do presidente Juscelino Kubitschek, cinco anos antes,
foi lançado candidato governista inicialmente do Partido Social Democrático (PSD) e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Posteriormente, recebeu o apoio de outras agremiações de esquerda, entre elas o Partido Social Trabalhista (PST), o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido Republicano Trabalhista (PRT).
* Possuía o jingle “De Leste a Oeste, / De Sul a Norte, / Na terra brasileira, / É uma bandeira / O marechal Teixeira Lott”. O então vice-presidente João Belchior Marques Goulart (Jango) candidatou-se novamente ao cargo de vice e – talvez – seu jingle tenha sido o melhor de todos: “Na hora de votar, / O meu Rio Grande vai jangar: / É Jango, é Jango, é o Jango Goulart. / Pra vice-presidente, / Nossa gente vai jangar / É Jango, Jango, é o João Goulart”. O jingle de Jango variava de estado para estado, e na versão nacional, aparecia como “o brasileiro vai votar”.
* O PSP sem ter feito coligação, lançou novamente Adhemar Pereira de Barros, então prefeito de São Paulo e ex-governador, mas com bases mais sólidas. Seu jingle de campanha era apenas a frase “Desta vez, vamos com Ademar…”, sendo repetido várias vezes.
* A sensação do pleito foi mesmo a ascensão irresistível do populista Jânio da Silva Quadros. Este, de obscuro professor em São Paulo onde foi vereador e prefeito, passou a governador do estado, com reputação no combate à corrupção. Usou como símbolo de sua campanha a vassoura, somada ao jingle “Varre, varre, varre, varre, / Varre, varre vassourinha, / Varre, varre a bandalheira / Que o povo já está cansado / De sofrer dessa maneira / Jânio Quadros é esperança / Desse povo abandonado” e conseguiu se eleger.
* Jânio, lançado pelo pequeno Partido Trabalhista Nacional (PTN) e pelo Partido Democrata Cristão (PDC), ganhou – pouco a pouco – adesões em outras pequenas legendas como o Partido Republicano (PR) e o Partido Libertador (PL). Finalmente, a União Democrática Nacional (UDN) viu nele a oportunidade de chegar ao poder. Que ganhou a eleição com 48% dos votos válidos, inclusive com apoios no PTB, e na classe popular, tendo sido formado o movimento “Jan-Jan” (Jânio e Jango). Nas eleições, foi novamente eleito vice-presidente João Goulart, tendo sido derrotado o candidato da UDN, Milton Campos.
* A eleição de 1960 se caracterizou por grande participação, muitos comícios, e o uso dos símbolos como as vassouras (adeptos de Jânio, chamados de janistas), espadas (adeptos de Lott), o trevo (adeptos de Adhemar de Barros, chamados de ademaristas) e a utilização maior da TV como meio de propaganda. O Movimento Trabalhista Renovador e o PDC lançaram o dissidente do PTB Fernando Ferrari para vice-presidente.
* No entanto, Jânio Quadros não conseguiu emplacar um ano à frente da presidência da República. Em 25 de agosto de 1961, ele renunciou ao cargo, alegando “pressões irresistíveis”. Antes de sair do Palácio da Alvorada, tomou decisões ‘históricas’ como proibir as rinhas de galo, o biquíni nas praias, os bilhetinhos aos assessores e a condecoração de Ernesto Guevara, um dos principais motivos de sua saída. Não deixou saudade.