Nas vezes em que saía pedalando de casa, nos finais de semana, com destino ao Parque da Cidade e outros destinos turísticos ou não na capital federal, sentia grande insegurança no trajeto inicial de seis quilômetros até chegar à entrada do Parque, pois nesse trecho não existiam ciclovias e a disputa de espaço com automóveis e seus semelhantes, ainda que o movimento fosse bem menor nesses dias, era bastante estressante, forçando a trocar o prazer pleno de pedalar pelo receio de se ver atropelado e, consequentemente, alijado do seu prazer maior.
Depois que chegava ao tal parque, as coisas melhoravam para ele e parceiros desconhecidos, era outra realidade. Não que fosse um paraíso, pois infelizmente, o ciclista aí poderia facilmente se transformar no protagonista ativo de acidentes, inclusive com morte, ao invés de paciente, como ele lera recentemente no noticiário sobre um ciclista – irresponsável – que, em alta velocidade, atropelara uma septuagenária na pista mista de ciclismo/pedestrianismo e ela não resistira, vindo a óbito três dias depois do evento.
Deixando esse lado lúgubre, ele aproveitava bastante aquelas 4-6 horas em que o pedal, o vento no rosto, o pastel-com-caldo-de-cana predominavam. Quando se cansava do caótico trânsito de ciclistas, esqueitistas, rollers, fundistas ou simples caminhantes, estendia a pedalada por regiões outras do Plano Piloto, assim chamado o “centro” do DF, a Brasília propriamente dita. Não sem antes desfrutar um pouco de alguma apresentação de rock ou MPB ao vivo, como sempre acontecia aos domingos.
Passeava então pelos pontos turísticos rotineiros: a Torre de TV e sua fonte luminosa, herança do provincianismo interiorano, a Catedral e a Esplanada dos Ministérios, se misturando aos visitantes encantados ou os oriundos da periferia que, durante todos os outros dias da semana participavam da vida da cidade de maneira bem menos interessante, espremidos nos ônibus ou metrô, esquecidos das vias largas e por onde desfilaram no domingo, agora atulhadas de veículos, impessoais, imperceptíveis, inalcançáveis, rumo ao trabalho nada empolgante.
Incomodava-o bastante pedalar pela ciclofaixa domingueira do Eixo Monumental, a avenida que vai da extinta Rodoferroviária até aquela praça dos podres poderes. O incômodo se justificava pelo fato de, primeiro: a ciclovia existente no canteiro central da via era tomada por pedestres, mesmo havendo uma calçada paralela destinada a eles em toda a extensão. Em segundo lugar, era a possibilidade de ser atropelado mesmo estando na faixa exclusiva demarcada por cones, o que já lhe ocorrera quando um carro saiu detrás e um ônibus, da terceira faixa de rolamento (são seis no total) repentinamente para fazer o retorno e freou quase em cima dele.
Por essas e mais outras prefere fazer seu turismo pelas estradas, longe do trânsito urbano onde as regras são mais respeitadas, exceto, é claro, nos perímetros urbanos das cidades maiores.
*Técnico em informática e ciclista que pedalou por diversas cidades do estado de São Paulo.