Mesmo com juros mais altos e um cenário econômico indefinido nesse começo do ano, há uma previsão de que o setor imobiliário do país cresça em 2015, impulsionado pelo aumento de 10% nas concessões de crédito, do salário mínimo, confiança do consumidor e liberação de novas unidades pelo Programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.
Mas essa é uma expectativa que pode não se concretizar, pelo menos de imediato no setor de imóveis em Dracena. Representantes de imobiliárias consultados pela reportagem, reagiram com cautela às estimativas da Imoconnect (Imobiliárias Conectadas), empresa que desenvolve tecnologias para o mercado imobiliário e possui uma rede de corretores autônomos e imobiliárias licenciadas no Brasil.
Segundo a Imoconnect, o momento é favorável, uma vez que o setor imobiliário fechou o ano com participação de 9% do Produto Interno Bruto (PIB), totalizando R$ 200 bilhões em financiamentos. Montante 10% maior do que os valores registrados no ano passado.
Para 2015, a expectativa é um novo crescimento de 10%, apesar do aumento de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros da economia, que saltou de 11,25% para 11,75% ao ano. “As vendas de imóveis devem continuar em ritmo acelerado”, avalia a empresa.
DRACENA – De acordo com o delegado do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci) e proprietário da Imobiliária Lema em Dracena, Wilson de Camargo Bueno, a realidade no mercado em Dracena, não vem sendo positiva.
“Não adianta o governo anunciar novos créditos se não se consegue a liberação dos recursos”, afirma.
Bueno explica que o obstáculo para financiamento de imóveis pelo Programa Minha Casa, Minha Vida, em Dracena é o teto de R$ 90 mil, autorizado pela Caixa Econômica Federal (CEF), valor muito baixo, que inviabiliza uma construção para a classe social que o programa pretende atender.
“Em Dracena, o valor do terreno é alto, não se encontra abaixo de R$ 60 mil, enquanto o percentual máximo de investimento em um terreno é de 40% do total financiado pela CEF, isso significa que não tem como se enquadrar no programa, não se compra um terreno e constrói uma casa na cidade com R$ 90 mil” reitera o delegado.
Bueno denuncia casos irregulares de proprietários de loteamentos e investidores de imóveis na comercialização de terrenos pelo programa Minha Casa Minha Vida.
“O terreno custa por exemplo, R$ 60 mil e é vendido a R$ 40 mil para se enquadrar no plano de financiamento e o interessado terá que pagar o restante, no caso, R$ 20 mil, de outra forma”, aponta.
Além de ilegal, o corretor alerta que o consumidor que agir dessa forma, não vai conseguir terminar a construção da casa por falta de recursos e ainda por cima, vai acumular dívida.
“Em Dracena há diversos desses casos, por isso é preciso cautela com os financiamentos, pois com renda de R$ 2 mil (mensais), as pessoas tem acesso ao crédito, o problema é depois”, alerta.
A solução para melhorar o mercado imobiliário na cidade, segundo Bueno, será a CEF aumentar o teto de financiamentos para a faixa da população que hoje está enquadrada nos R$ 90 mil, como ocorre em cidades da região como Tupã, Presidente Prudente, Adamantina, entre outras que o teto varia de R$ 120 mil a R$ 130 mil.
“Se a CEF mudar o teto para R$ 130 mil, muita gente vai construir em Dracena”, explica. Segundo Bueno, já existe uma linha de crédito, direcionada para a classe média, em que o teto de financiamento é de R$ 120 mil a R$ 150 mil, a qual está tendo bastante procura.
INFLAÇÃO NOS ALUGUÉIS – Com a impossibilidade de construir uma casa com financiamento até R$ 90 mil, parte da população acaba recorrendo aos aluguéis. “Isso faz com que casas sejam colocadas para alugar, em valores que nas suas condições, principalmente com a falta de manutenção, não valem esse valor”, acrescenta Bueno.
Ele exemplifica casos de residências que o proprietário pede aluguel de R$ 700, quando na verdade vale R$ 500, pela falta de moradias nessa faixa de renda.
Sobre a oferta de casas para locação, o delegado do Creci informa que casas boas são alugadas, mas as ruins não. “O proprietário pede R$ 800 a R$ 1 mil, mas dificilmente aluga”, esclarece.
Nesse mês de janeiro, com o reinício das aulas de 2015 nas faculdades se aproximando, a oferta de casas para locações em janeiro está bem baixa.
Proprietário da imobiliária Stella Maris, o empresário João Vicente, também demonstra cautela na previsão do mercado para 2015 em Dracena.
“Os valores dos imóveis subiram e dos financiamentos não acompanharam”, afirma. Segundo Vicente, ainda é cedo para avaliar como será o mercado em 2015, citando como fatores, a incerteza econômica do país nesse ano.
Ele ressalta que o Programa Minha Casa Minha Vida, trouxe um leve aquecimento no mercado e em casas nos valores acima de R$ 100 mil e R$ 200 mil, a maioria, 70% é construída por financiamento.
Para as locações, segundo Maria Elizabete Garcia, que trabalha na mesma imobiliária, informa que o mercado também exige atenção por parte de quem vai alugar.
“A tendência é do proprietário do imóvel manter ou negociar o valor do aluguel na renovação do contrato”, informa, Maria Elizabete, explicando que o poder aquisitivo da população diminuiu e não comporta reajustes nos aluguéis.
Ela cita exemplos de residências para alugar a R$ 1,2 mil, em que é negociado e cai para R$ 1 mil, ou uma casas de R$ 1,8 mil em que é alugada por R$ 1,5 mil. No entanto, as faixas nos valores de aluguéis mais procuradas estão entre R$ 500 a R$ 650, dependendo das condições do imóvel. Elizabete enfatiza que até três meses atrás, antes das eleições, o mercado de locações não estava bom, mas reagiu no mês passado.