O presidente francês, François Hollande, disse hoje (15), em discurso no Instituto do Mundo Árabe em Paris, que os muçulmanos são as primeiras vítimas do fanatismo, do fundamentalismo, da intolerância. “O islamismo radical alimenta-se de todas as contradições, de todas as influências, da miséria, da desigualdade, de todos os conflitos, há muito por resolver”.
Há alguns dias, na fachada do instituto, principal instituição cultural do mundo árabe na França, pode-se ler em francês e em árabe “Somos todos Charlie”, escrito com grandes letras vermelhas.
As cerimônias fúnebres dos cartunistas Georges Wolinski e Bernard Verlhac, conhecido como Tignous, do economista Bernard Maris e da psicanalista Elsa Cayat, que assinavam crônicas no semanário satírico Charlie Hebdo, ocorrem hoje (15). Eles foram mortos no ataque ao jornal na semana passada.
O policial Frank Brinsolaro, responsável pela proteção do diretor do jornal, o caricaturista Stéphane Charbonnier, conhecido como Charb – que morreram no atentado – também vai ser enterrado hoje.
Os três jihadistas, que mataram 17 pessoas, incluindo sete jornalistas, três policiais e quatro judeus, afirmaram ter vingado o profeta, depois de o Charlie Hebdo ter publicado várias caricaturas de Maomé.
No primeiro número depois dos atentados, os sobreviventes do jornal publicaram mais uma caricatura de Maomé, com uma lágrima no olho.
As reações indignadas multiplicaram-se no mundo árabe, onde qualquer representação de Maomé é proibida.
Em comunicado divulgado hoje, o Emirado Islâmico do Afeganistão, nome oficial dos talibãs afegãos, lamentou a publicação de novas caricaturas.
Os atentados terroristas da semana passada continuam a ter repercussões na França, sobretudo com ataques contra a comunidade muçulmana, a mais importante da Europa.
Cerca de 50 incidentes contra locais de oração ou de reunião foram registrados na última semana, de acordo com o Observatório contra a Islamofobia, do Conselho Francês do Culto Muçulmano.
A Justiça francesa abriu 54 procedimentos por “defesa do terrorismo” e “ameaças de ações terroristas”. O governo francês pediu firmeza no tratamento desses casos.
Mais de 200 incidentes foram registrados nos estabelecimentos escolares, como a recusa de fazer um minuto de silêncio em memória das vítimas do Charlie Hebdo.
O atentado contra o jornal foi reivindicado pela Al Qaeda no Iêmen, em um vídeo divulgadoonline nessa quarta-feira (14) e considerado autêntico por Washington.