O bom motivo para avaliar a grandiosidade do Carnaval brasileiro, é abrir a boca do saco e de ponta cabeça sacudir, arregaçar pelo avesso, eliminando ácaros, impurezas e outros parasitas adormecidos, sedimentados. Cito, desde a entrada da corte portuguesa, tratado de Tordesilhas, capitanias hereditárias, divisões das terras, posses irregulares, doações dos patrimônios nacionais para estrangeiros, abandono escancarado a quaisquer invasores e desvio incessante dos tesouros nacionais.
Isso mesmo! O País tem um território imenso, “precisa ser cuidado”. Vamos fiscalizar as fronteiras! Que venha o bandeirantismo, homens valentes, com armas nas mãos, eliminar delinquentes. Vamos explorar essas matas virgens, descobrir minérios, povoar, o negócio é desmatar, apossar, aqui é nosso, somos donos “reis/rainhas” Ha! Extinguir essas gentes simples, e desapropriá-los apoderarmos. São índios. Eles não pensam. E negros nas plantações! E vamos formar uma grande nação. Aqui tudo é farto, abundante!
Assim se vai Brasil para o topo/fundo do funil, sem planos e nem direção formando o mais top Carnaval do mundo. Confiram:
Comissão de frente – Pouquíssimos integrantes, triunfantes, vestidos elegantemente abrem as portas do congresso para o mundo e à multidão com seus discursos expressivos, convictos, mascarados e imbuídos de ludibrias, sincronismo, como em ensaios coreográficos, esbanjando simpatia e convencimento público.
Evolução – Prá frente Brasil! Povo meu, caminhem de maneira homogenia, ganhem velocidade, cabeça erguida, não deixe buraco, nem causem dúvidas, sem demonstrar nenhum desprazer, precisamos garantir lá fora! Ninguém tem fome, nem sede. Aqui não há corrupção. Imposto aqui? Zerado. Esse é um povo saciado, feliz.
Conjunto – A interação entre nós é perfeita. Ninguém acusa ninguém, um salvando o outro. E nadamos no dinheiro!
Harmonia – Tudo em plena sincronia. Todos falando a mesma língua. Errar a interpretação da presidenta, simboliza estarmos morrendo afogados na própria saliva.
Samba enredo – Cuidado, o discurso tem que ser perfeito. Oh, não pode deixar nenhuma brecha na lei! O povo tem que acreditar.
Mestre sala e porta bandeira – A bandeira desse país tem que estar protegida. Vocês sabem, existe lei que a proteja, e o povo brasileiro, tem que cumprir. Sem toques, me rela! Nada de críticas, isso é crime. Portanto brasileiros, não errem. Façam o que manda o figurino.
Alegoria e adereço – Esse é fácil, é só chegar à fronteira, percorrer e apreciar a inusitada, competente guarda costeira brasileira. Atravessou pra cá, apreciarão a dimensão da desigualdade, as diferenças, os descasos e desproteção que o brasileiro conta, canta, encanta e clama proteção.
Enredo – Os candidatos criam, fantasiam, defendem por todo o paísideias que o povo gosta de ouvir e compram.
Utopia? O Brasil precisa desconstruir o passado, sem si perder na história, deixar se realizar análise profunda sob/sobre o seu leito universal. Uma vez, lapidado, corrigido, fertilizado, possamos depositar confiança e efetuar a semeadura planejada, direcionada para um futuro próspero, livre, igual para todos.
*professora de Arte, especialista em Artes Cênicas e radialista em Piacatu.