Assim que teve início o pronunciamento feito no domingo, 8, pela presidenta Dilma Rousseff em cadeia nacional de rádio e televisão, começou também, em algumas capitais do país, um protesto na forma de panelaço e buzinaço. Pelas mídias sociais, foram registrados protestos desse tipo em regiões de Brasília, do Rio de Janeiro, de São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia e Curitiba. De acordo com o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) João Paulo Machado Peixoto, panelaços como os de ontem acabam por expor “em praça pública” críticas ao governo.
“Significa um repúdio à atual situação em que vive o país, não só do ponto de vista econômico, mas principalmente político”, disse ele. Na avaliação do especialista, o panelaço é dirigido tanto à presidenta quanto ao governo em geral. Segundo ele, diante das denúncias de corrupção noticiadas pela imprensa, era previsível que a população se manifestasse em algum momento. Ele destacou a previsão de uma semana muito tensa do ponto de vista político, com manifestações programadas para os dias 13 e 15 de março – a primeira, a favor do governo e a segunda, contrária.
Essa polarização, lembra o especialista, não é novidade no Brasil. “As últimas eleições mostraram isso. Estamos polarizados, a exemplo do que ocorria, no passado, nos embates entre udenistas e petebistas. Mas essa dialética é própria da democracia”, destacou.
“As próprias passeatas [previstas para os próximos dias] deixam claras essas semelhanças, podendo ser comparadas às ocorridas em 13 e 19 de março de 1964”, disse ele referindo-se ao comício da Central do Brasil organizado por sindicatos e líderes camponeses que apoiavam o então presidente João Goulart (Jango) e à Marcha da Família com Deus pela Liberdade, organizada logo depois em resposta à suposta “ameaça comunista” representada por Jango.
Para a historiadora da UnB Albene Míriam Ferreira Menezes, especializada em relações internacionais, as manifestações de ontem foram, de certa forma, isoladas e restritas a bairros onde a presidenta Dilma perdeu as eleições. “Tudo indica que não se trata do eleitorado que a colocou no cargo. O que chama a atenção é que foram em algumas capitais, mais especificamente em bairros de classes média alta e alta, onde ela perdeu as eleições. Além disso, o panelaço foi orquestrado por redes sociais. Portanto não foi um movimento espontâneo.”
Segundo a professora, o perfil das pessoas que fizeram o panelaço é bastante próximo ao das pessoas que têm defendido o impeachment ou participado das manifestações do “Fora Dilma”. “No caso brasileiro, o que se vê é um contexto de crise que, em parte, foi forjada, uma vez que não há justificativas para a oposição entrar com pedido contrário à diplomação de Dilma nem para pedidos, de impeachment. Tudo isso tem por base argumentos frágeis que não se justificam. É udenismo puro ameaçando a democracia brasileira, por gerar questionamentos à ordem democrática de direito.”