Moradores das casas construídas sobre barranco às margens do córrego Ribeirão das Marrecas, área do bairro Ponte Nova classificada de risco pela Defesa Civil local, são contrários a ideia de desocupar o espaço e pagar financiamento da casa popular oferecida pela Prefeitura por meio da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) no recém inaugurado conjunto habitacional ‘Prefeito Derocy Alves Valença’.
A ideia da assinatura do convênio com o Estado feito na época pelo então prefeito José Milanez Júnior (Ting) em 2006, era garantir o reassentamento das 80 famílias cadastradas pela Assistência Social na área de risco. Processo de desocupação que já vinha a tempos se esbarrando na burocracia de saber quem na verdade seria o real proprietário das terras onde estão essas moradias irregulares.
Segundo o departamento jurídico da Prefeitura, desde 1997 as terras passaram a pertencer a Companhia Energética de São Paulo (Cesp), por doação da própria administração municipal.
No ano passado, técnicos da Defesa Civil da Prefeitura em uma nova vistoria nas moradias percebeu a instabilidade do solo e recomendou a necessidade da remoção das famílias como medida preventiva contra possíveis desastres.
Desde então, a consequência de toda essa demora resultou na resistência apresentada pela maioria das famílias que hoje só deixariam o lugar se fossem indenizadas ou isentas da obrigação de pagar financiamento da casa do programa habitacional do Governo do Estado.
“Saio daqui [do bairro Ponte Nova] para pagar [financiamento de casa], vai que eu atraso a prestação e eles me colocam para fora junto com a minha mulher e meus sete filhos”, disse Celidio Ribeiro, 60, servidor público municipal reclamando do ganho mensal para se comprometer com as parcelas pelo prazo de 25 anos.
Mesma posição defende a do lar Martinha Lopes, 62, moradora do bairro há 23 anos: “Não concordo. Eles estão dando a casa para pagarmos. Não quero [casa] popular, quero isso daqui que comprei”, afirmou.
Segundo a Prefeitura, das 80 famílias só 34 aceitaram as condições estabelecidas pela CDHU, e até agora, somente três famílias se mudaram para as casas populares. Os imóveis desocupados estão sendo demolidos para impedir novas ocupações.
Por telefone, o prefeito Luiz Carlos Henrique da Cunha, disse que nenhuma providência no sentido de forçar a saída das famílias será feita pela Prefeitura.
A diretora da Assistência Social, Carla Juliana Siquieri Peres, diz acreditar que muitas dessas pessoas não querem um carnê para pagar, mas sim um canto para dizer que é deles. “Na verdade [as famílias] não poderiam estar lá”, afirmou. Segundo ela, a condição das habitações naquela área é subumana.
A reportagem do JR esteve na tarde de quarta-feira, 18, visitando duas das três famílias que estão morando nas casas populares desde sexta-feira, 13, da semana passada para saber se estavam satisfeitas com a escolha.
A do lar Meiriele Ketner Faria, 25, disse ter pensado na qualidade de vida a oferecer aos três filhos menores de seis anos de idade. “Não me arrependo de jeito algum. Isso aqui [a casa] ficará para meus filhos”, disse. Ela contou sobre problemas enfrentados na antiga casa relacionada à rede de esgoto a céu aberto e aparições de escorpiões.
Na rua acima do quarteirão de Meiriele, Cristina Barbosa da Silva se mostrou muito feliz, embora revelasse sentir muita saudade do antigo endereço onde criou a filha Tamires.