Em relatório divulgado hoje (12), intitulado Fracasso na Síria, 20 agências humanitárias apresentaram levantamento que mostra 2014 como um ano negro no conflito da Síria. O documento diz que a Organização das Nações Unidas (ONU) falhou na tentativa de aliviar o sofrimento dos civis.
“Houve mais mortes, mais bombardeiros, mais pessoas foram desabrigadas; houve um aumento considerável no número de pessoas que precisam de ajuda humanitária”, disse Daniel Gorevan, assessor político da organização não governamental (ONG) britânica Oxfam.
Em fevereiro de 2014, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução 2139, que determinou que todas as partes envolvidas na guerra civil autorizassem, de imediato, o acesso da ajuda humanitária ao país. O documento pediu também o fim dos ataques a civis, incluindo o uso indiscriminado de armas em áreas urbanas, prisões arbitrárias, tortura e sequestros.
Em julho e dezembro do mesmo ano outras duas resoluções foram aprovadas pelo Conselho, a 2165 e a 2191, permitindo que equipes de apoio das Nações Unidas e de entidades parceiras entrassem na Síria por países vizinhos sem ter que pedir autorização ao governo local.
Para as agências humanitárias, as resoluções foram ignoradas não só pelas partes envolvidas no conflito, mas pelos próprios membros do Conselho de Segurança, que não se esforçaram para que fossem efetivamente implementadas.
“Os documentos não geraram o efeito esperado na proteção de civis, no acesso humanitário à região, na ampliação das contribuições internacionais e na garantia de soluções políticas para o conflito”, aponta o relatório.
Cerca de 220 mil pessoas foram mortas durante os quatro anos de guerra civil na Síria, 76 mil só no ano passado. Os recursos para o financiamento da ajuda humanitária caíram de 2013 para 2014: de 71% para 57% do total necessário para apoiar civis e refugiados em países vizinhos.
O relatório mostra que as necessidades humanitárias cresceram 30% em 2014, em comparação com o ano anterior. Mais de 11,6 milhões de pessoas necessitam urgentemente de água potável e cerca de 10 milhões não tem comida suficiente para sobreviver. Cerca de 4,8 milhões de pessoas estão vivendo em áreas inacessíveis, 2,3 milhões a mais do que em 2013. Aproximadamente 5,6 milhões de crianças precisam de ajuda, 31% mais do que há dois anos.
Apenas cinco das 34 barreiras de acesso existentes na região estão abertas para comboios humanitários, segundo as agências. Em 2014, 1,1 milhão de pessoas receberam ajuda dos comboios que chegaram a Damasco, capital síria, uma queda considerável em relação aos 2,9 milhões de civis alcançados pelas equipes humanitárias no ano anterior.
“Crianças estão perdendo a educação pois não conseguimos alcançá-las. Muitas escolas foram destruídas e parentes não querem enviar as crianças às aulas por medo de que as escolas sejam atacadas”, informou o diretor da ONG Save the Children, Roger Hearn.
“Enquanto heróis humanitários arriscam suas vidas para oferecer ajuda essencial e serviços básicos, milhões de sírios continuam inacessíveis, não só por causa da guerra e da piora da situação, mas também por causa da falta de financiamento e das barreiras burocráticas”, disse.
As agências humanitárias pediram uma ação concreta das potências internacionais para garantir o fim das violações aos direitos humanos, a retomada das conversações de paz e o fim do suprimento de armas às partes envolvidas no conflito.
“Está claro que muito mais pode ser feito pelos membros do Conselho de Segurança e seus aliados, para garantir que as resoluções não continuem a ser apenas palavras num pedaço de papel”, disse Gorevan.