Com queda nas vendas de ate 40% nos primeiros dois meses deste ano, os fabricantes de caminhões já reduzem a jornada de trabalho e até salários para adequar a produção a fraca demanda. É a primeira vez neste ano que a “semana curta”, usada no ano passado e em períodos de crise, é adotada.
A Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo, trabalha com jornada de quatro dias desde 6 de março e deve estender a medida na linha de caminhões por um período mais longo.
Na última segunda, todos os cerca de 10 mil funcionários ficaram em casa. Na terça, a linha de caminhões permaneceu parada.
Desde julho do ano passado, 750 empregados da MBB estão em “lay-off” (suspensão temporária do contrato de trabalho). Devem retornar a fábrica no final de abril.
A montadora abriu na semana passada um PDV (programa de demissão voluntária) para enxugar o quadro pessoal. “A semana reduzida vai até abril e pode ser estendida. Estamos negociando medidas para evitar demissões, já que a Mercedes tem dito que há um excedente de trabalhadores”, afirma Rafael Marques, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
A MAN, divisão de caminhões da Volkswagen em Resende (RJ), trabalha em 2015 com jornada e salários reduzidos em 10%. O acordo, feito com o Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense e aprovado pela categoria, inclui ainda um PDV aberto aos 5.000 funcionários da montadora e de sete fornecedores que atuam na unidade no sistema produtivo conhecido como consorcio modular.
A Scania, em São Bernardo, prevê cinco dias de parada em abril para adaptar seus volumes, segundo acordo de jornada flexível negociado com o sindicato da região. Dos atuais 3.779 funcionários da fábrica, 60% estão na linha de produção.
No Paraná, a Volvo concedeu ferias coletivas para 1.700 empregados do setor de produção de caminhões de 16 de março a 5 de abril.
Sergio Butka, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, diz que, com a volta dos funcionários, deve discutir redução da jornada e outras medidas com a Volvo. “Não tem outra forma, temos de negociar. No final de 2014 já houve a dispensa de 200 empregados com contrato temporário determinado”, diz.
Na Ford, ha uma negociação para a abertura de um plano de demissões, segundo a Folha apurou. A empresa tem 424 empregados em banco de horas por tempo indeterminado na unidade de São Bernardo, onde produz caminhões e automóveis.
Com os juros mais altos para o financiamento de caminhões e o agravamento da crise, a demanda de caminhões vem caindo principalmente no segmento de caminhões pesados para construção civil e agronegócios.
As quedas nesse segmento chegam a 70% no primeiro bimestre ante igual período de 2014, com as decisões de compra postergadas.
Em 2014, o setor de caminhões já havia registrado queda de 11,3% em relação a 2013. “Temos negociado com o governo um plano para proteger empregos e renovar a frota de caminhões”, diz Marques.