Uma mulher de 47 anos morreu no domingo (26) ao lado de um pronto-socorro em Monte Alto(SP) depois de desmaiar e de uma espera de 40 minutos por atendimento, segundo familiares. Eles alegam que Edna Cristina Ribão Soares de Lima teve atendimento imediato negado pela equipe da unidade de saúde, a menos de 50 metros de onde ela caiu, sob a justificativa de que era necessária a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Um vídeo mostra a mulher desmaiada sem receber auxílio médico, apesar de estar perto do PS, além de um suposto enfermeiro que passou próximo, mas não fez nada.
O enfermeiro-chefe do Samu no município, Wagner de Oliveira, nega a alegação de que a ambulância demorou. Ele confirmou que sua equipe apareceu três minutos após o chamado e que, em mais seis minutos, a paciente tinha sido levada à unidade. O responsável mostrou à reportagem da EPTV um relatório de atendimento em que registra os horários citados.
A Secretaria Municipal de Saúde defendeu a presteza no trabalho do Samu, mas confirmou que vai apurar a postura do enfermeiro visto na rua, perto da paciente.
Família reclama de descaso
Familiares relatam que, na manhã do domingo, Edna tinha acabado de deixar o Pronto-Socorro Doutor Adauto Freire de Andrade, onde sua filha grávida estava prestes a entrar em trabalho de parto, para fazer compras em um supermercado.
Na volta, no entanto, ela foi encontrada desmaiada na rua, ao lado de um caminhão, a menos de 50 metros do PS, disse o trabalhador rural José Roberto Feitosa da Silva, genro de Edna. “Entrei em desespero. Peguei no pulso dela, ela ainda estava respirando, tentei ajudar, mas ninguém me ajudou”, afirmou.
De acordo com ele, além da tentativa frustrada de conseguir com que alguém do pronto-socorro o ajudasse, o Samu demorou 40 minutos a comparecer. Um vídeo gravado por um morador mostra algumas pessoas em volta da mulher desfalecida na sarjeta.
Um homem, vestindo uma camiseta branca e que aparentava ser um enfermeiro do PS, passou pelo local e chegou a pegar a bolsa da paciente, mas a devolveu, relatou o genro de Edna. “Ela estava perdendo os pulsos aos poucos, mas estava viva. Se tivesse alguém para socorrer, ela poderia estar aqui ou estar morta também, mas podiam tê-la ajudado. O socorro demorou muito. Já fazia tempo que ela estava ali.”
A ambulância chegou a levar a paciente, mas, segundo os familiares, não houve tempo para mais nada e a equipe médica registrou morte súbita. Para o borracheiro Keison Soares de Lima, filho de Edna, a falta de atenção adequada foi determinante para a morte de sua mãe.
“Como o hospital não sabe que tinha alguém doente, se o próprio enfermeiro traz a bolsa para ela? O próprio enfermeiro falou para todo mundo ali que tinha que esperar a ambulância. A meu ver, não se pode mexer [em paciente] em caso de acidente. Ela só tinha caído ali. Se alguém tivesse chegado antes acho que minha mãe ainda estaria viva”, afirmou.
“Se tivesse alguém para socorrer, ela poderia estar aqui ou estar morta também, mas podiam tê-la ajudado.” José Roberto Feitosa da Silva, genro
Samu
Responsável pelo Samu em Monte Alto, Wagner de Oliveira, no entanto, conta outra versão. Segundo ele, sua equipe recebeu a chamada às 10h10, compareceu ao local às 10h13, encerrou o atendimento às 10h17, de acordo com os procedimentos recomendados, e chegou ao pronto-socorro às 10h19.
“A pessoa estava desacordada. Foi feito todo o suporte básico de vida. Foram verificados sinais vitais, pulso, glicosimetria. Foi feito todo o protocolo do Samu no local da ocorrência e [a vítima] foi encaminhada ao pronto-socorro. Dentro do pronto-socorro foi dada sequência ao atendimento”, afirmou.
Secretaria da Saúde
As informações são ratificadas pelo secretário municipal de Saúde Paulo César Carello. “O atendimento do Samu aconteceu dentro do que está previsto. Se você considerar que um atendimento padrão de até dez minutos está razoável, estamos dentro desse prazo”, disse.
Ele também argumentou que os funcionários do PS não necessariamente sabiam do que estava acontecendo. “Não é questão que não pode [alguém do PS ir à rua atender a paciente]. Não sei avaliar como estava minha equipe dentro do PS naquele instante, se estava fazendo atendimento. Hoje nosso PS tem média de 200 atendimentos por dia.”
Apesar disso, Carello anunciou que vai apurar a postura do suposto enfermeiro que foi visto próximo da vítima, mas que não interviu na situação. “A Secretaria de Saúde vai fazer uma investigação. Pedirei, através de um oficio para a empresa que presta serviço, esclarecimentos do atendimento ou da falta de atendimento por parte daquela pessoa com a camiseta [branca, vista nas imagens]. Se ela estava no horário de trabalho ou não, bem como por que não tomou nenhuma medida naquela situação, o que normalmente está na essência do profissional de saúde”, afirmou.