Amanda de Carvalho com colaboração de Daniel Nicodemo
A acerola é um fruto muito apreciado pela população em geral e apresenta alto teor de vitamina C, que pode ser até 80 vezes superior ao de outras frutas cítricas. A Nova Alta Paulista tem se destacado no cultivo de acerola, sendo responsável por mais de 10% da produção nacional dessa fruta, tornando-se responsável pela fixação do homem no campo e pela geração de empregos na indústria de sucos e polpas. Entretanto, com a degradação ambiental, em virtude do desmatamento de áreas com vegetação nativa e com o aumento da utilização de agrotóxicos, a produção de acerola pode estar comprometida em nossa região.
Para que ocorra produção satisfatória de frutos, o produtor deve escolher uma cultivar de acerola de boa qualidade genética, realizar adubação e irrigação corretamente, entre outros tratos culturais fundamentais para o sucesso da produção vegetal. Porém, um fator geralmente relegado pelos produtores, a polinização, caso não ocorra de modo satisfatório, pode implicar em safras ruins, gerando prejuízos ao produtor de acerola.
A polinização é a transferência de pólen produzido no órgão reprodutor masculino (antera) para o órgão receptor feminino (estigma) das flores. Dessa forma se dá a fecundação e consequente formação do fruto. No caso da acerola, é necessário que ocorra a polinização cruzada, que requer a troca de pólen entre o antera de uma flor para o estigma de uma outra flor. Para o transporte dos grãos de pólen entre as flores. os agentes polinizadores são fundamentais, e destacam-se nessa função as abelhas.
Sem o trabalho desses insetos, a produção de alimentos seria reduzida em um terço. Porém, cada cultura vegetal depende de um tipo de agente polinizador específico. Dentre as mais de três mil espécies de abelhas que existem no mundo, as mais conhecidas são as abelhas melíferas, as quais também são chamadas de abelha europa (no Brasil o correto é dizer abelha africanizada). Entretanto, para a cultura da acerola, outras abelhas são consideradas eficientes polinizadoras. Estamos falando de abelhas dos gêneros Centris e Epicharis.
Diferentemente das abelhas melíferas, essas são abelhas solitárias (não vivem em sociedade). Logo, individualmente, elas constroem um ninho, reproduzem-se, cuidam da cria e morrem. Nas flores da acerola, essas abelhas obtêm recursos para alimentação própria, da cria e para a manutenção do ninho, que é encontrado geralmente no solo, em pedaços de madeira ou formigueiros desocupados.
Em um trabalho* de pesquisa sobre a polinização da acerola, realizado pelo Núcleo de Operações Sustentáveis, em Dracena/SP, recentemente publicado na revista Pesquisa Agropecuária Tropical, verificou-se que só houve produção de frutos de acerola quando as flores foram visitadas por abelhas Centris e Epicharis. Entretanto, a produção de acerola poderia ser maior se a população desses insetos fosse maior no pomar avaliado, promovendo maior visitação das flores.
Desconsiderar a importância desses insetos para a produção de acerola pode impactar negativamente a safra desse fruto tão importante para nossa região.
Portanto, é preciso que os produtores conheçam tais insetos, agindo em favor do crescimento da população dessas espécies. Nesse sentido, por exemplo, um erro grave é efetuar o manejo do solo nas entrelinhas do pomar de acerola com grade ou arado, pois, tal prática destrói ninhos dessas abelhas que estão instalados na terra. O uso de agrotóxicos e a ausência de outras culturas vegetais ao redor do pomar, principalmente de áreas nativas, também impactam negativamente a produtividade de acerola.
Sendo assim, para que a Nova Alta Paulista possa cada vez mais se destacar na produção de acerola e de outras culturas vegetais, é necessário que haja interação harmoniosa entre abelhas e a agricultura. Dessa forma, as abelhas terão sucesso na manutenção de suas espécies por encontrar alimento e local para construção de seus ninhos, o produtor rural, obterá safras com excelentes níveis de produção, conferindo-lhe maior lucratividade e, o consumidor terá alimentos de boa qualidade.
*OLIVEIRA, J.E.M.; NICODEMO, D.; OLIVEIRA, F.F. Contribuição da polinização entomófila para a produção de frutos de aceroleira. Pesquisa Agropecuária Tropical, v.45, n.1, p.56-65, 2015.
