Cada dia com sua agonia – era o que se dizia antigamente, quando as pessoas tinham conhecimento apenas do que ocorria a sua volta. Porém, com o avanço tecnológico que trouxe o mundo e todas as eras para dentro de casa, a agonia se estendeu para todo o globo e se sofre ao conhecer os problemas dos que estão longe, além daqueles que estão perto.
Como ficar indiferente aos acontecimentos que penetram as salas, através da televisão, contando que pessoas são assassinadas unicamente porque o assassino quer um dos seus pertences. Como foi o caso do médico que foi esfaqueado, no Rio de Janeiro, por um menor porque este queria sua bicicleta? Não houve abordagem, nem aviso. Apenas o jovem já chegou desferindo facadas e quando a vítima caiu, ele levou a bicicleta.
Mas, quem era o infrator? Não conheceu o pai e a mãe vive pelas ruas tentando conseguir drogas para seu uso. As pessoas já pregavam a diminuição da idade penal e prisão perpétua para o rapaz, quando a viúva, equilibradamente, declarou: “Jaime foi vítima de vítimas, que são vítimas de vítimas”.
Esse acontecimento já passou a fazer parte da nossa agonia, como também as barcaças carregadas de refugiados que ficam boiando no mar porque ninguém os querem em lugar algum. Sem comida, sem água, sob o sol inclemente, vão morrendo e sendo jogados ao mar. Qual o crime que praticaram? Pertencem a outra religião ou a outra etnia e, assim, são rejeitados. Cristãos rejeitam muçulmanos, que rejeitam budistas, que rejeitam outras seitas.
Há quantos milênios as seitas religiosas se repudiam entre si? Em nome se um pseudo-deus bondoso e misericordioso, mas com denominações diferentes, as pessoas matam, torturam, cometem as maiores barbaridades. Não bastassem essas loucuras fanáticas, ainda existem localidades em que se matam porque o outro pertence a outra raça, embora tenha nascido e se criado ali.
Síria, Turquia e outros países ao redor estão se engalfinhando em lutas sangrentas, deixando populações inteiras aturdidas, sem saberem para onde ir. Campos de refugiados construídos para eles são verdadeiros campos de concentração do séc. XXI. Não ficam a dever nada aos campos nazistas.
E tudo isso entra pelas nossas casas e pela nossa vida, fazendo parte do dia a dia. Ou a pessoa padece com esse sofrimento, tão longínquo e ao mesmo tempo tão perto, ou endurece o coração e procura ver como normal o sofrimento alheio. E a agonia agora vem de longe e de perto. É muito difícil ser indiferente ao sofrimento de tanta gente que não tem para onde ir, de como se safar de situações tão aflitivas e extremas.
Ao mesmo tempo, os infortúnios que estão próximos, como o abandono de crianças que acabam por se inserir no crime para sobreviver, as doenças que se espalham trazendo o desconforto e a tristeza rodeiam as mentes, espantando a alegria que se poderia ter.
E assim prossegue a civilização, dando um passo à frente e dois para trás, na ascensão de uma loucura que parece não ter fim.

Até quarta-feira
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Dracena –