A redução do gado para abates está prejudicando os frigoríficos dos estados de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, inclusive com demissões. Na região de Dracena, a queda na oferta de bovinos vem ocorrendo desde o final do ano passado e agora se intensifica.
Além de arcar com aumentos nos custos da energia elétrica e combustíveis, que encarecem a produção e o frete, os frigoríficos estão pagando mais caro também pela arroba do gado adquirida do produtor.
De acordo com Jamil Racanelli, funcionário dos setores de transporte e compra de gado de um frigorífico na cidade de Monte Castelo, que abastece açougues e mercados da região, as dificuldades em conseguir gado para compra na região, começaram no mês de novembro do ano passado.
“Ficou difícil, a cana-de-açúcar se tornou monopólio, passou a ocupar as áreas que eram de pastagens e a maioria dos proprietários que havia arrendado a terra para a cana, não consegue voltar para a pecuária”, informa.
“Quando a terra é arrendada para a cana, toda infraestrutura da pecuária é retirada da propriedade, desde cercas, lascas e mangueiras e com o dinheiro que o pequeno e médio proprietários recebem das áreas arrendadas, não conseguem reativar os pastos nem instalar uma nova estrutura para a criação do gado”, acrescenta Racanaelli.
Por outro lado, ele explica que nas propriedades de grande porte, os donos também não conseguem absorver a demanda da procura do gado para abate. “Os custos de produção ficam muito altos, com gastos em rações, suplementos, vacinas e agora nessa época de frio, as despesas aumentam ainda mais, uma vez que as pastagens sentem a mudança no tempo”, enfatiza.
A consequência da falta do gado no pasto é o aumento no preço e a redução no abate. De acordo com Racanelli, a arroba (15 quilos) para o corte passou a custar em torno de R$ 148, o que inviabiliza adquirir os machos e fêmeas, além de um raio de 150 quilômetros de Monte Castelo.
“Acima dessa distância, não compensa, pelos custos com transporte, entre outras despesas, além disso, os pequenos e médios frigoríficos que possuem inscrições estaduais só podem adquirir o gado no estado de São Paulo, não podendo exportar”, aponta.
A média de abate diária no frigorífico que era de 180 a 200 cabeças por dia reduziu para 120 a 130 e os efeitos da crise, resultam em demissões. “Hoje a empresa possui pouco mais de 60 funcionários, já chegou de 120 a 130”, informa, ressaltando que as dispensas também ocorrem porque os encargos ficam muito elevados.
Raccaneli ressalta que além disso, os grandes frigoríficos que possuem inscrições federais, podem comprar em qualquer estado do País e a preços mais baratos, de R$ 128 a R$ 134, por arroba, em média. “Não há como competir”, reitera.
PAÍS – A falta de gado vem causando problemas mais sérios em frigoríficos sediados em estados tradicionalmente produtores. Caso do Mato Grosso, que possui o maior rebanho do Brasil, estimado em 28 milhões de cabeças e não têm animais suficientes para o abate interno.
As empresas enfrentam dificuldades para manter a operação, que está ociosa, pagando funcionários e energia elétrica mais caros e agora sem ter matéria-prima. Pelo menos quatro unidades frigoríficas suspenderam as atividades em três municípios nos últimos seis meses.
Recentemente, a JBS/Friboi, anunciou o fechamento da unidade instalada em São José dos Quatro Marcos (a 315 km de Cuiabá) que empregava 724 funcionários.
A suspensão das atividades na unidade da Friboi elevou para dois, o número de empresas fechadas no estado num intervalo de duas semanas. Em Rondonópolis, a 212 km da capital, um frigorífico de médio porte com capacidade para abater 500 animais por dia deixou de operar em maio. As informações são do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo/MT).