As famílias dos jovens Daniel Gomes de Oliveira e Diego Galvão descobriram, após 19 anos, que eles foram trocados na maternidade particular onde nasceram em Formosa, no Entorno do Distrito Federal. Os partos foram realizados no mesmo dia e horário, em 1996. A troca foi confirmada por meio de um exame de DNA, realizado após suspeitas provocadas pela semelhança de Diego com um amigo, que se trata de seu irmão mais velho.
A dona de casa Dileide Galvão, que criou Diego, conta que no dia em que deu à luz o centro cirúrgico foi dividido com a cabeleireira Eliana Gomes de Melo, que ficou com Daniel. Apenas um pano as separavam na ocasião.
“Eles fizeram o parto dela e, em seguida, vieram fazer o meu. Mas a Eliana começou a passar muito mal, e aí aceleraram meu parto para cuidar dela. Um dos médicos pediu para a enfermeira me levar para o quarto, e os dois bebês continuaram na sala de cirurgia com a Eliana”, contou Dileide.
A assessoria de imprensa do Hospital São Camilo, onde ocorreram os partos, informou que não vai se posicionar sobre o assunto.
Semelhança
Os anos passaram, e as famílias continuaram morando na mesma cidade, que tem pouco mais de 100 mil habitantes. Os pais nunca desconfiaram de que algo poderia estar errado. Sem saber do parentesco, Diego acabou ficando amigo do irmão biológico mais velho, o militar Pablo Vinícius Gomes de Oliveira. E muita gente comentava sobre a semelhança física dos dois.
“Tinha muito comentário na cidade. O pessoal falava muito que tinha um menino que era igual a mim, que me lembrava um pouco. Através de amigos sempre rolavam brincadeiras, umas montagens [de fotos]”, conta Pablo.
Quando Eliana viu Diego pela primeira vez, ficou desconfiada por conta da semelhança com Pablo. “Eu olhei aquele menino parecendo meu filho mais velho, o sorriso igual ao do meu filho, e ele caminhou na minha frente. Eu falei assim: ‘Gente, aquele menino é meu filho. Ele caminhou igualzinho ao meu mais velho, meu irmão, meu pai. Vou fazer o DNA’”, relatou a cabeleireira.
Após uma conversa, Diego aceitou fazer o exame, mas ainda não tinha contado sobre a suspeita para a mãe de criação, Dileide. No entanto, quando saiu o resultado positivo, o caso teve de ser revelado. “Foi um choque para mim ter que falar para os meus pais que eu tinha feito o DNA sem autorização. Aí foi um baque para eles e para mim também. Mas logo que eu soube do resultado fui falar com a Eliana. Achei ela muito gente boa e ganhei outra mãe”, conta.
Surpresa
Já Daniel, que foi pego de surpresa com a notícia de que sua mãe biológica era Dileide, diz que ficou em choque. “Não sei nem explicar, pois só sentindo para saber a reação. É uma coisa que eu não desejo para ninguém”, disse.
Apesar da confusão, os parentes decidiram não desfazer a troca. “Olha, a gente está tentando se unir, os meninos, as famílias, pois não há outro jeito”, disse Dileide.
Eliana diz que dói saber que não criou o próprio filho, mas ama Daniel como se fosse o dela. “A gente ama os dois igualmente. Quando o Diego está comigo, eu me sinto a mulher mais feliz do mundo e me lembro dos primeiros meses em que fiquei grávida daquele menino, e isso dói, machuca”, afirmou.
Investigação
Após a confirmação da troca, os envolvidos denunciaram o caso à Polícia Civil, que instaurou uma investigação e solicitou ao hospital os prontuários do nascimento dos jovens. Porém, a unidade alega que os documentos foram perdidos em um alagamento que ocorreu no local anos atrás.
“Quando a gente pediu a busca e apreensão, o juiz indeferiu. Então, solicitamos os documentos via ofício. Mas a direção do hospital alega que ocorreu um alagamento, um fenômeno da natureza [e eles foram perdidos]. Além disso, quando a atual direção assumiu, os prontuários não estavam arquivados corretamente”, disse a delegada Fernanda Lima, responsável pelo caso.
Segundo ela, a polícia quer esclarecer os fatos e tenta identificar a equipe médica que fez os partos. “Estou procurando buscar a autoria da prática desse crime, se foi cometido dolosamente [com intenção] ou culposamente. O resto será discutido na Justiça”, explicou.