A coluna de ontem começou assim: “Há exatos 25 anos, Jânio da Silva Quadros (1917-1992) renunciava à presidência da República do país”. Em verdade, exatos não é bem o termo adequado ao contexto, pois Jânio renunciou em 25 de agosto e não em 25 de julho.
Dupla do barulho
Adhemar de Barros e Jânio Quadros formaram uma dupla de políticos folclóricos por décadas, antes do golpe de estado de 1964. Adhemar era sinônimo de corrupção, tanto que seus seguidores justificavam: “rouba, mas faz”. Jânio foi eleito com uma bandeira moralizadora, no entanto, não demorou a decepcionar seus milhões de eleitores. Dizem que renunciou após um grande porre, regado a uísque estrangeiro, no cinema do Palácio Alvorada. Cassado, depois confinado na ilha de Fernando de Noronha. Finda a ditadura, ainda foi eleito prefeito de São Paulo, derrotando Fernando Henrique Cardoso.
Execrando o desafeto
Jânio foi inimigo extremado de Adhemar de Barros. Dizem que, um dia, conversou por alguns minutos com o diretor de um importante jornal do Rio de Janeiro, a quem confidenciou: – Senhor, a corrupção destes tempos faria corar o dr. Adhemar!
Personagem patética
Ao longo dos anos, afloraram diversas histórias envolvendo Quadros. Algumas verídicas, outras inventadas por jornalistas e políticos da época. Na maioria delas, percebe-se que, além da inteligência e do improviso, o “homem da vassoura” foi sempre um grande consumidor de biritas. Seguem-se alguns casos e ‘causos’.
Com a boca na botija
Em1960, Quadros visitava o Recife, em campanha presidencial. Hospedado na casa do ex-deputado Murilo Costa Rego, preparava-se para uma coletiva de imprensa logo pela manhã. Diante de um banquete de queijos, bolos e frutas, Jânio fez troça: “Só estou vendo leite. Não sou bezerro. Quero um puro, Murilo”. Eis que, no momento em que era servido pelo garçom com uma garrafa de Old Parr, uma caravana de prefeitos entrou na sala. O repórter Sebastião Nery flagrou a cena. “Como uísque? Eu disse leite, Murilo”. E bebeu tudo num só gole.
Argumento irrefutável
Em 1992, no velório de Jânio, apareceu um homem aos prantos. Jurava que, há muitos anos, estava no alto de um prédio disposto a se matar quando Jânio, então um jovem vereador, gritou: “Não faça bobagem”. Ele explicou que ia pular porque a esposa o traíra. Jânio dissuadiu o suicida: “O que tua mulher te arrumou foi um par de chifres, não um par de asas. Desça daí já”!
Língua afiada
Cassado na primeira lista do golpe de 64, Jânio passou longos períodos no exterior, sobretudo na sua Londres querida. Tinha horror de encontrar brasileiro. Estava caminhando na rua com a filha Tutu e o assessor Ruy Nogueira Neto, um eleitor brasileiro o viu: – Presidente, o senhor sabe quem sou eu? Jânio ficou com ódio, arregalou os olhos e disparou: – Ora, meu caro, se você, que é você, não sabe quem você é, logo eu é que teria de sabê-lo?