Este mês já é conhecido como o mês do desgosto. Mas, de acordo com a tradição popular – principalmente no nordeste do Brasil – o dia 24 é o mais azarado do mês. Acredita-se que, nesse dia, o diabo saia à solta cobrando os pecados de todos. No candomblé, 24 de agosto é o dia de Exu, o mais malvado dos espíritos que controlariam o destino das pessoas. Na História, o dia 24 de agosto de 1572 ficou conhecido como o Dia do Massacre de São Bartolomeu. Nessa data que é dedicada ao santo, a rainha francesa Catarina de Medici ordenou a matança de todos os huguenotes – como eram chamados os protestantes na França. O massacre resultou em mais de 20 mil mortos em apenas dois dias
* O oitavo mês dos calendários juliano e gregoriano poderia ser pulado na política brasileira. Com os seus longos 31 dias, agosto entrou para a História do Brasil marcado por tragédias. Viu-se de tudo: de suicídio e renúncia de presidentes da República até mortes de ícones da política nacional. Entre eles, o ex-presidente Juscelino Kubitschek e Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco e símbolo da esquerda no país, morto no
mesmo dia 13 de agosto do seu neto, Eduardo Campos, vítima de acidente de avião no ano passado.
* Há seis décadas, no dia 24 de agosto de 1954, o presidente Getúlio Vargas se matou, no Palácio do Catete, com um tiro desferido no próprio coração. O líder da Revolução de 30, pai dos pobres e fiador da modernização do país, virou mito e adiou, por dez anos, a chegada dos militares ao poder. Uma comoção nacional tomou o Brasil inteiro pela morte de Getúlio, então presidente eleito.
* Num trecho da carta-testamento, encontrada na mesinha de cabeceira do presidente morto, estava escrito: “Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada temo. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”. O relógio indicava que faltavam 15 minutos para as 9 da manhã daquele 24 de agosto de 1954.
* Três anos antes do golpe de 64, uma crise política sem precedentes sacudiu o Brasil. Eleito com o discurso de que varreria a corrupção, Jânio Quadros renunciou à Presidência, em 25 de agosto de 1961, por considerar inviável governar sob a Constituição de 1946. Ele não tinha apoio das esquerdas, do PSD e, muitas vezes, até da UDN.
* Durante os anos de chumbo, um novo desastre abalou o país. No dia 22 de agosto de 1976, o ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu num acidente de carro na Via Dutra. No quilômetro 165 da rodovia, o Opala que o levava de São Paulo para o Rio ultrapassou a mureta divisória e bateu de frente num caminhão. Na época, a polícia chegou a investigar a hipótese de um ônibus ter batido de propósito na traseira do carro, dirigido por Geraldo Ribeiro. Porém, o motorista do coletivo acabou absolvido por falta de provas. Em 1996, o corpo de JK foi exumado, e o laudo oficial concluiu que ele morrera num acidente.
* E, às vésperas de mais um 24 de agosto, a situação política do Brasil é tensa. No meio da semana, o Ministério Público Federal denunciou Eduardo Cunha, presidente da câmara federal, por lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Sexta-feira, Gilmar Mendes, ministro do TSE, pediu investigação da campanha que reelegeu Dilma Roussef.