Pensei que a modernidade seria mais pelada, lisinha. Bem, para nós, as mulheres, até que rolou, meio institucionalizada a depilação. Pelos? Só cabelos, que jogamos para lá e para cá no tal jogo da sedução. Só que agora os homens resolveram mostrar seus personagens e foram desencavar a barba. Correndo! – tem até mulher usando também e não é para circo nenhum. A concorrência anda alta.
Eu já tinha reparado, mas sem parar exatamente para pensar no assunto. Olho de um lado, de outro, e vejo pelos, pelos, pelos, em barbas de todos os tipos que se espalham nas faces dos homens nas ruas. Grandes, ralas, tortas, bonitas, horrorosas, pontudinhas, milimetricamente arranjadas, largadas, barbarellas, birimbelas. Coloridas. Brancas, grisalhas, falsas, misturadas, até trançadas já vi. Impressionante. Moda, mesmo, das que devem ficar um tempo. Ajuda na solução de alguma crise de identidade? Pode até ser.
Barba cresceu como símbolo de masculinidade, virilidade. Passaram a identificar muito os militantes de um certo partido que está em baixa, assim como os líderes por eles ainda venerados. Dá para identificar os militantes, até porque não mudam nunca, não evoluem, atarracados num passado histórico do qual ouvimos falar bem, até estivemos por perto, utópico e sonhador, igualitário, mas que não se mostrou capaz quando virou real. Fizeram barba, cabelo e bigode, mas na Nação. Literalmente a estão deixando lisinha.
Mas não é bem sobre eles esse nosso papo agora, e sim sobre os vários personagens que estão surgindo nas ruas e que mostram que a barba é uma nova fantasia masculina. Os homens estão vestindo a barba. Alguns até esticam um cavanhaque, outros, um rabinho de cavalo, e mais recente houve o advento do coquinho. A praga do coquinho. Um montinho de cabelo no cucuruco e voilá, a autoestima do cidadão se apresenta. Repara.
O que está na crista da onda é o tal homem lenhador, uma mistura de Genghis Khan com fábula de João e Maria. É aquela barba mais comprida, volumosa, que vem acompanhada do olhar “tenho-um-machado-imaginário-na-mão”. Esse tipo floresceu seguindo estrelas do rock e do cinema, os adeptos, como são chamados pelos bloguinhos de moda dessas meninas que autorizam as “tendências” do alto de seus saltinhos. Pelas barbas do profeta!
Outros personagens: o Barba Negra, terrível pirata; o Barba Azul, assassino de suas mulheres; o Barba Ruiva, personagem do folclore do Piauí, que aparece e agarra para beijar as lavadeiras de roupas na beira dos rios. Tem a barba de pirata. A barba de vilão, aquela que tem um queixinho mais fino, pode vir com bigodinho de pontinha para cima. Já teve a barba falhada de propósito; barba de um dia; barba de dois dias. A barba viking, que atrai aquele chapéu de chifres para combinar. A dos heterodoxos. A dos ortodoxos, dos anciãos, a dos gurus – essas bem brancas, longas. A barba mais famosa do mundo é a de Papai Noel. Não, acho que não. É a barba de Jesus. Ninguém os imagina, tanto pai quanto filho, sem barba. Pensa.
Ela é símbolo de status, transmite informações, e exige cuidados. Soube que é como coisa que se cria na cara, igual à gente planta semente em vaso. E que as quatro primeiras semanas são desesperadoras porque dá uma coceira que precisa ser superada a todo custo para alcançar a suprema pelagem. Pelas barbas de Netuno!
Dá trabalho. Vira um hobby. Barba tem de estar cheirosa. Pelo menos tentar ser macia, molinha, e bem cortada. Usar shampoo, condicionador, massagear bastante com óleo de jojoba, semente de uva ou óleo de argan. Não sei se sabem, mas machuca sim. Raspa. Irrita. A resposta àquela velha perguntinha.
Aliás, falo de barba não é porque não tenha mais outro assunto. Ao contrário, que o assunto dos dias têm sido sobre um certo Barba, que está com as dele de molho de uma forma como nunca vimos antes e que esta semana será lembrado muitas vezes, todos os dias, a cada revelação dos anos em que mandou e daquela que ele nos deixou mentindo com a cara lavada. A mesma com que ambos vão aparecer essa semana.
*Jornalista.