Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger*
Oscar D’Ambrosio**

Professora da Universidade de Stanford, Patrícia Cross propôs a utilização no último minuto de uma aula, seminário ou atividade do que ela chama de One Minute Paper. Cada aluno ou participante, antes de sair, deve responder duas perguntas: Qual foi a coisa mais importante que eu aprendi?; e Qual foi a maior dúvida que me ficou?
As respostas, anônimas, são colocadas numa caixa da saída e proporcionam ao professor uma avaliação imediata da qualidade do seu trabalho. Além disso, a ação gera uma participação ativa dos estudantes no sentido de avaliarem constantemente as ações didáticas. A partir dessas respostas, o professor pode iniciar a aula seguinte com um comentário, gerando pontes naturais entre as atividades.
Essa prática, com alto retorno e baixo investimento, pode ser uma chave num mundo globalizado, de convívios sociais complexos, interdependentes, diversificados e multifacetados, em que a prática profissional se apresenta extremamente competitiva, exigindo cada vez mais do indivíduo conhecimentos diferenciados e aplicabilidade consciente e concreta das ciências e tecnologias.
Nesse contexto, há um certo consenso de que a Educação, desde a Básica até a Superior, é imprescindível para elevar a condição humana no sentido de um viver na perspectiva plena de desenvolvimento integral. Essa convicção leva à formação contínua de grupos de especialistas de nível mais elevado, que criam escolas de múltiplas especializações, aprofundando e ampliando a intelectualidade de cada pessoa e, em consequência, do coletivo social.
Cientistas, portanto, promovem o avanço das ciências/tecnologias e, como intelectuais, diferenciam-se no que diz respeito ao esforço da atividade profissional específica, ou seja, concentram-se mais no esforço cérebro-intelectual do que no esforço muscular-nervoso, gerando novos conhecimentos científico-tecnológicos e/ou propagando as ciências/tecnologias.
No Brasil, significativa parte da produção intelectual científica é desenvolvida nas Universidades Públicas, principalmente nas paulistas, sendo disseminada/aplicada/aprofundada por intelectuais que produzem academicamente, ensinam e/ou pesquisam e/ou atendem à comunidade e/ou estudam nessas e por meio dessas Instituições, consolidando o princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão científica.
Parece, portanto, inadmissível não reconhecer, em termos do entendimento da concepção de meritocracia, o trabalho efetivo intelectual, acadêmico e científico, dos docentes/pesquisadores/estudiosos que, há anos na Universidade Pública, vêm atuando e produzindo, com dedicação exclusiva e integral, em prol de uma sociedade justa, apresentando ou indicando a resolução de problemas das comunidades para um melhor viver social.
As universidades públicas, como instituições sociais, nesse aspecto, têm cumprindo devidamente com a sua responsabilidade principal, ou seja, de formar profissionais éticos, competentes e dignos de uma atuação científico-tecnológica diferenciada.
Perante os excessos do sistema de competição e de especialização prematura, os intelectuais universitários, ao gerar ciência de reconhecida qualidade e ao rebater o falacioso pretexto da eficácia a qualquer custo, dão passos decisivos para manter a vida cultural e o progresso da ciência do futuro, praticando o espírito do One Minuto Paper sem perceber, em suas ações cotidianas de ensino, pesquisa e extensão universitária.

*doutora em Educação Física e diretora da Faculdade de Ciências da Unesp em Bauru.
*doutor em Educação, Arte e História da Cultura e assessor-chefe de Comunicação e Imprensa da Unesp.