Há uma tendência de as pessoas sempre acharem que são superiores aos outros em, pelo menos, um quesito. Uns se acham mais espertos, outros, mais inteligentes ou mais ricos, ou mais bonitos, ou mais nobres, ou mais santos, ou mais sábios, enfim, é comum as pessoas acharem que, de alguma forma, superam as outras.
Enquanto isso não atrapalha a convivência é até suportável. Porém, há casos, e todo mundo conhece vários deles, que tornam muito difíceis as relações entre pessoas. Temos, no Oriente Médio, os sunitas e os xiitas. Enquanto uns se dizem descendentes da mulher de Maomé, os outros têm certeza de que são descendentes da irmã de Maomé. Por esse detalhe, eles se odeiam e não conseguem conviver há séculos.
Há o ódio religioso que leva pessoas a acharem que o seu deus é melhor que o deus do outro e, em nome dele, matam, torturam, saqueiam aqueles que discordam de sua crença. Felizmente no Brasil, com raras exceções, a religiosidade é bem “light” e esse tipo de preconceito não vinga. Pessoas que gostam de rezar nos templos vão a várias igrejas de diferentes crenças e acham tudo uma maravilha.
O que ainda temos arraigado é o preconceito de cor. Apesar de ninguém admitir, é evidente a dificuldade que os negros e mulatos têm de ser aceitos nas rodas de grã-finos. Talvez isso aconteça em decorrência do preconceito que hoje mais caracteriza e divide o povo do país. Esse, sim, apresenta-se sem muitos disfarces: é a rejeição à pobreza.
Sente-se, nas pessoas que, quem se julga economicamente bem, rejeita os que acredita possuírem menos dinheiro. Por isso, como a maioria dos pobres é negra ou mulata, nordestina ou mora na periferia, eles acabam por não ter a aprovação, nem a amizade dos que se julgam ricos. É comum se ouvir pessoas dizerem que tal ambiente não estava bem frequentado por estarem repletos de “baianos”. Obviamente se referiam a quem fosse de classe social inferior.
Quando da última eleição, em 2014, as redes sociais se encheram de postagens pedindo a separação do sul/sudeste do norte/nordeste. A gente fina, branca, rica, educada estava no sul e sudeste. Os “outros” habitavam o nordeste e norte. A candidata que venceu as eleições não atendia aos anseios da grã-finagem, por isso era rechaçada. Há alguns anos, no Rio de Janeiro, apareceram escritos desse tipo em alguns muros: “Faça um favor ao Brasil, afogue um nordestino”.
Essas atitudes que parecem ser inofensivas, apesar de pejorativas e agressivas, podem resultar em situações muito danosas. É estupidez desse porte que pode levar a guerras internas, como estamos agora vendo no Oriente Médio. Num país democrático jamais se deve lançar mão de tais argumentos, principalmente quando o foco se concentra em gostar ou não do candidato eleito. No Brasil, a cada 4 anos todos os governantes passam pela aprovação nas urnas. Não estamos mais na ditadura, quando o povo não era consultado para nada. Se você gostou da atuação do seu candidato, vote novamente nele. Não gostou, vote em outro. O que não se concebe é não acatar o resultado das urnas, ofender autoridades e querer que a sua vontade prevaleça, contrariando todas as regras democráticas.

Até quarta-feira
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– Dracena-