Rodrigo Rodrigues e Renata Massara têm uma história parecida para contar: foram demitidos no primeiro semestre deste ano em um corte de funcionários promovido pelas empresas em que trabalhavam. Com a crise econômica, a demanda de trabalho e o faturamento de algumas companhias caíram e, com isso, uma das saídas encontradas para equilibrar as contas foi cortar despesas e funcionários.
Perdi o emprego, e agora? Ao longo desta semana, o G1 vai dar dicas para quem está sem trabalho, e contar histórias de brasileiros que superaram essa dificuldade e voltaram a se recolocar
“A agência de publicidade em que trabalhava estava com menos clientes e o faturamento foi caindo. Por ter um salário alto acabei sendo demitido para cortar gastos. Fui pego de surpresa em uma sexta-feira”, conta o diretor de arte e criação Rodrigo Rodrigues, de 32 anos.
Em julho deste ano, o país fechou mais de 157 mil vagas de emprego com carteira assinada, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O resultado marcou o quarto mês seguido de demissões na economia brasileira e também o pior para este mês desde o início da série histórica do Ministério do Trabalho para este indicador, em 1992. No acumulado dos sete primeiros meses de 2015 ainda segundo dados oficiais, foram fechados 494.386.
Apesar das dificuldades, ambos conseguiram se recolocar no mercado de trabalho em pouco tempo: Renata ficou 2 meses sem trabalhar, e Rodrigo ficou cerca de 1 mês sem emprego. Mas eles precisaram aceitar condições inferiores à que tinham antes da demissão – os dois voltaram a trabalhar com salários menores que os anteriores, uma das alternativas indicadas pelos especialistas (veja abaixo) para “dar a volta” na crise.
A história de Renata e Rodrigo é comum. Segundo especialistas ouvidos pelo G1, encontrar uma vaga no mercado de trabalho está mais difícil e, além disso, os salários não são mais os mesmos. Por isso, os profissionais acabam procurando vagas por mais tempo e disputando com muitos outros candidatos.
“É mais comum termos pessoas que se recolocam para ganhar menos. A decisão de aceitar ou não depende muito dos gastos e custos mensais. É lógico que todo mundo quer continuar ganhando o que ganhava e ter um aumento, mas o mercado não tem se mostrado tão receptivo”, afirma Luis Fernando Martins, diretor da Hays.
Veja abaixo 8 dicas para se recolocar no mercado:
Segundo Ricardo Ribas, gerente executivo da Page Personnel, o primeiro passo é atualizar o currículo e lembrar de suas experiências. “Tem muita gente que fica muito tempo sem procurar emprego e esquece como fazer o currículo. Montar um bom currículo com experiências, técnicas, cursos é importante para ter um bom material quando o candidato for se cadastrar em sites de emprego”, ressalta.
O profissional precisa definir qual será a sua estratégia na hora de procurar um novo emprego. Ele deve determinar se vai continuar na mesma área, quais empresas vai buscar, por quanto tempo vai procurar uma oportunidade com uma determinada remuneração, se está disposto a ter uma queda de rendimentos e de cargo para se recolocar.
“Se ele não souber para onde quer ir e onde quer chegar, ele não vai saber qual caminho adotar. O plano de voo tem que definir uma meta”, aponta Luis Fernando Martins, diretor da Hays.
Sites de emprego, sites das empresas, networking, indicação de amigos, grupos em redes sociais e ajuda da família são apenas alguns exemplos de como os profissionais podem procurar uma nova oportunidade.
Mas a rede de relacionamentos é destacada pelos especialistas como uma das ferramentas mais indicadas. “É sempre a maneira mais eficaz, já que algumas posições são abertas apenas dentro das empresas antes de serem divulgadas”, ressalta Flavia Mentone, gerente de RH e diversidade da consultoria Sem Barreiras.
De acordo com todos os especialistas ouvidos pelo G1, perder o foco e se inscrever para todas as vagas que aparecem é um dos grandes erros dos candidatos. Ribas lembra que o profissional pode acabar aceitando uma vaga que não tem o seu perfil e depois fica mais difícil para se recolocar novamente.
A entrevista ainda é o cartão de visitas do profissional. Dessa forma, é importante que ele faça a sua lição de casa: estude sobre a empresa e a vaga, saiba explicar e exemplificar suas experiências e mostrar como pode contribuir para o cargo em questão.
“Em momentos de crise, muitas vezes é preciso aceitar reduzir o salário e cortar alguns gastos do orçamento”, lembra Flavia. O profissional precisa estar pronto para estudar as propostas que receber, mesmo que os salários e o cargo não sejam os mais atrativos.
“Se ele acredita que vai ter uma boa chance na empresa, de médio a longo prazo, é o momento de arriscar”, completa Ribas.
Os profissionais podem aproveitar as oportunidades temporárias que surgirem enquanto estiverem desempregados. Além de ajudarem no fôlego financeiro, elas também podem trazer novos conhecimentos. “Mas caso não haja uma real oportunidade de efetivação é importante que ele não pare a busca por uma posição permanente”, lembra Martins.
Quem fica desempregado tem que saber por quanto tempo suas reservas financeiras serão suficientes para manter seus gastos. Segundo Martins, a estratégia traçada no início da procura já deve ter essas previsões. “O profissional deve saber por quanto tempo consegue se sustentar buscando vagas com o perfil que deseja e depois quando vai buscar posições de níveis menores para que a sua saúde financeira não seja comprometida”.
Indicação do ex-chefe
A principal preocupação de Rodrigo Rodrigues, de 32 anos, quando foi demitido, após quase três anos no mesmo emprego, foi a sua família. Casado e com um filho pequeno, ele sabia que teria que se recolocar no mercado o mais rápido possível para ajudar a esposa com as contas da casa. “Eu tive todo o apoio possível da família, mas é difícil por causa das responsabilidades”, conta.
Ele foi demitido em março deste ano e conseguiu um novo emprego um mês depois com a indicação do seu ex-chefe. Hoje, ele está em uma outra agência de publicidade, mas os rendimentos acabaram caindo.
“Acho que todos nós temos aquela vontade de que as coisas melhorem e que o retorno venha, mas eu tinha aconsciência da situação do mercado e como tudo o que estava acontecendo estava influenciando a área em que trabalho. Então, preferi estar empregado, mesmo ganhando um salário bem menor do que recebia antes do que continuar procurando e não sabendo o que poderia acontecer mais pra frente”.
No novo emprego há quase 5 meses, Rodrigues considera que teve um bom recomeço e que tem oportunidades de crescer. “Estou mostrando o meu trabalho e isso me deixa muito contente e empolgado.”
Mais longe de casa
A publicitária Renata Massara, de 25 anos, também teve que se adaptar para conseguir um novo emprego. Demitida em abril, em um corte da empresa, ela conseguiu se recolocar em junho por meio de um site de emprego da sua faculdade.
“Não recebi muitas propostas, mas consegui entrar na agência que mais me interessou. Tive que aceitar uma proposta inferior e mais distante da minha casa para me recolocar”, conta.
Para quem ainda está procurando ela deixa uma dica. “Aceite uma proposta mesmo que sua carreira regrida um pouco. O momento agora é de garantir um emprego e focar em obter experiência e aprendizado”.