David Spencer-Percival nasceu em um subúrbio de Londres e abandonou a escola aos 16 anos, porque queria ver o mundo.

Quase três décadas depois, ele começou não apenas um, mas dois negócios de recrutamento do zero e os transformou em empreendimentos multimilionários em apenas um ano.

Em 2000, quando começou sua carreira em recrutamento, Spencer-Percival, hoje com 44 anos, ajudou a criar a empresa Huntress e a transformou em um negócio com receitas de 100 milhões de libras (R$ 624 milhões) por ano.

Apesar de seu sucesso, menos de uma década depois, ele abandonou seu salário de seis dígitos e vendeu todas as suas posses, incluindo uma mansão do século 19 e suas coleções de automóveis clássicos, de antiguidades e de arte – que contavam com obras do artista Damien Hirst – para levantar fundos e começar um novo negócio.

Em 2010, ele criou a Spencer Ogden, empresa especializada em recrutamento para o setor energético. Agora, essa empresa também tem receitas na casa das 100 milhões de libras por ano, escritórios em todo o mundo e emprega 400 funcionários e 900 prestadores de serviço.

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 Quando jovem, Spencer-Percival trabalhou em bancos e com moda antes de dedicar-se ao ramo do recrutamento  (Foto: Arquivo Pessoal)
Quando jovem, Spencer-Percival trabalhou em bancos e com moda antes de dedicar-se ao ramo do recrutamento (Foto: Arquivo Pessoal)

No ano passado, o negócio rendeu o maior prêmio britânico para empresas, por sua contribuição às exportações do país.

Vender tudo e abandonar um salário de 350 mil libras (cerca de R$ 2 milhões por ano) na Huntress foi “emocionante e aterrorizante”, segundo ele.

“Tive sucesso um tanto jovem e comprei muitos ‘brinquedos’, mas isso nunca me satisfez. Eu cheguei a passar um ano na Christie’s (empresa de leilões) comprando antiguidades e, em uma semana, tudo foi embora.”

Me senti tão livre. Isso me permitiu ser muito mais flexível. Quando você tem muitas coisas é complicado cuidar delas, com essas mansões sempre há algo errado com o telhado ou o jardim.”

Spencer-Percival vendeu uma mansão e coleções valiosas ao decidir abandonar sua primeira empresa…

‘Eu não trabalho com o fracasso’
Trabalhando na Huntress, ele não teve um dia de folga durante sete ou oito anos, apesar de a companhia “ter ganhado quase todos os prêmios disponíveis”. “Pra ser honesto, eu estava esgotado”, afirma.

Por isso, Spencer-Percival deixou a empresa e decidiu viajar pelos Estados Unidos durante três meses com sua esposa, Bonita. Mas antes mesmo da viagem, o multimilionário Sir Peter Ogden, fundador da empresa Computacenter – que vale cerca de 3 bilhões de libras –, já o havia sondado sobre um novo negócio.

“Sir Peter Ogden me ligou e disse: ‘Vamos fazer alguma coisa, eu te apoio. Então eu fui (para as férias) sabendo que tinha um plano de negócios. Era uma sensação tão maravilhosa – eu não tinha nada além de um monte de dinheiro no banco.”

Como já havia trabalhado com recrutamento, o empresário sabia que havia necessidade deste tipo de serviço no setor energético.

“Eu queria trabalhar só com energia renovável, mas não é um mercado muito grande. Então expandimos para todo tipo de energia: nuclear, gás, petróleo, elétrica e renovável. E deu certo – foi simplesmente fenomenal”, diz o empreendedor.

Ele diz que não ganhou um salário sequer por dois anos, o que “pode acabar sendo muito caro” e que construir a empresa foi amedrontador, já que “você sempre tem um fluxo de caixa apertado, porque está crescendo muito rápido”.

…mas, após o sucesso da segunda, já está refazendo suas coleções e comprando propriedades

“Mesmo assim, eu tinha uma confiança enorme no meu sucesso. Eu não trabalho com o fracasso”, diz.

Por causa do crescimento da empresa, ele diz que sua vida está “voltando a ser como era”, com uma coleção cada vez maior de carros clássicos e casas em Londres, no interior da Inglaterra e em Ibiza, na Espanha.

Uma jaqueta para Robbie Williams
A vida de Spencer-Percival hoje é bem diferente do que era no começo de sua carreira. Quando saiu da universidade, ele queria trabalhar em Londres, mas o banco em que trabalhava não queria transferi-lo. “Eu trabalhava em vilarejos pequenos nesses bancos. Era tão chato”, diz.

“Aí eu fui trabalhar com moda. Larguei tudo – para o horror dos meus pais. Não ganhava dinheiro, mas usava roupas ótimas e ia às melhores festas”, relembra.

Foi nesse período que conheceu a esposa, Bonita, uma dançarina no Royal Ballet britânico que também era consultora de moda da boy band britânica Take That, muito famosa na época.

“Ela foi na loja em que eu trabalhava e disse: ‘essa jaqueta que você está usando vai dar em Robbie Williams, posso pegá-la emprestada?’. Eu emprestei.”

Quando jovem, Spencer-Percival trabalhou em bancos e com moda antes de dedicar-se ao ramo do recrutamento

Depois de um tempo trabalhando com moda, um amigo sugeriu que ele fosse trabalhar com recrutamento. Foi sua segunda grande mudança de carreira.

Mesmo habituado aos desafios de começar algo novo, Spencer-Percival diz que, pelo menos por enquanto, vai ficar onde está.

“Acho que passaremos os próximos três ou quatro anos dobrando o tamanho da empresa. Há muito potencial (para crescer) porque é um mercado bem grande”, afirma.