Comer carne processada, como salsichas, hambúrgueres e bacon, aumenta o risco de câncer, segundo concluiu na segunda-feira, dia 26, um painel de especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS). O documento conclui que este tipo de alimentos é “carcinogênico para os humanos” e o inclui no grupo de substâncias mais perigosas para a saúde, junto com o cigarro, o plutônio e o ar contaminado, entre outros mais de 100 compostos analisados anteriormente. Em um relatório publicado, o organismo também considera que a carne vermelha (vaca, porco, cavalo, cordeiro, cabra…) é “provavelmente carcinogênica”.
Um grupo de 22 cientistas de 10 países da Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer (IARC, em inglês), que integra a agência de saúde das Nações Unidas, foi encarregada de revisar os estudos científicos publicados sobre o tema.
A decisão da ONU foi antecipada na semana passada pelo jornal Daily Mail e causou uma forte reação por parte da indústria. O Instituto Norte-americano da Carne, um grande representante do setor patronal nos EUA, disse na sexta-feira, dia 23, que o estudo “vai contra o senso comum” e vai contra “dezenas de estudos nos quais não se encontrou correlação entre a carne e o câncer”.
Mas o estudo da ONU é conclusivo e mostra evidências científicas suficientes para que se considere os hambúrgueres e as demais carnes processadas como um produto que gera câncer. A maior parte das evidências citadas no sumário de suas conclusões, publicadas nesta segunda no The Lancet Oncology, se baseiam em estudos epidemiológicos realizados em vários países europeus e outras partes do mundo. Esses trabalhos, dizem, mostram que este tipo de carne está associada a uma maior incidência de câncer colorretal. O estudo encontra uma associação direta entre estes alimentos e o “câncer colorretal em 12 dos 18 estudos de coorte [estudos epidemiológicos com a população geral] com informação relevante, feitos na Europa, Japão e EUA”, ressalta o estudo.
De qualquer forma, o risco adicional destes alimentos é relativo, como reconhece o próprio IARC em um comunicado. Cada 50 gramas de carne processada aumenta o risco de câncer colorretal em 18%. Isto representa que “para um indivíduo, o risco […] é pequeno, mas aumenta conforme a quantidade consumida”, explicou Kurt Straif, um dos responsáveis pelo trabalho. Mas, devido ao alto consumo deste tipo de alimentos em muitos países, acrescentou, há um “impacto na incidência global do câncer importante para a saúde pública”.
No caso da carne vermelha, os especialistas consideram que os indícios são “limitados”, e por isso a incluem no grupo 2A, apenas um nível abaixo dos itens mais prejudiciais. “Nesta avaliação, o grupo de trabalho levou em consideração todos os dados relevantes, incluídos os abundantes dados epidemiológicos que mostram uma associação positiva entre o consumo de carne vermelha e o câncer colorretal”, afirma o trabalho. Este tipo de carne, acrescenta, “também é associado aos cânceres de pâncreas e próstata”.
A decisão coincide com a opinião de outras organizações dedicadas à luta contra o câncer. Por exemplo, a Fundação Internacional para a Pesquisa do Câncer considera “convincente” que tanto a carne processada como a carne vermelha estejam associadas ao câncer colorretal.