Parece que na quarta-feira, 16 de dezembro de 2015, o Brasil teve um encontro com sua ‘tempestade perfeita’ quando todos os eventos convergiram para um desastre de proporções imbatíveis. Foi como se numa enxurrada de eventos o país estivesse dando uma guinada de 180 graus em direção ao passado, um desprezo por boa parte das evoluções conseguidas nos últimos tempos.
Na economia infelizmente as previsões deste ‘profeta do apocalipse’ se confirmaram, não por uma sapiência incomum, mas por um poder de analise do óbvio: inflação anunciada de dois dígitos, beirando 12% para o ano, PIB retrocedendo 3.6% (só a Ucrânia em guerra é pior), a taxa de cambio do dólar beirando os R$ 4 e finalmente… o rebaixamento do ‘grau de investimento’ dos papeis financeiros do país. No cenário externo algo também previsto – o aumento dos juros americanos decidido pelo FED.
Para o Brasil for realmente ‘perfect storm’. O rebaixamento deve tirar do país algo em torno de US$ 1.5 bilhões no curto prazo dos fundos de investimento e pensão externos que não podem ter papéis sem grau de investimento. Dólar assim tem campo para subir e criar ainda mais pressão inflacionaria, pelas commodities agrícolas cotadas em dólar e os insumos da indústria. Abre também uma brecha para o nosso BC aumentar ainda mais os juros visando compensar essa saída de dólares com taxas atraentes de aplicação. Mais dívida interna, mais pagamento de juros nos gastos públicos, menos superávit primário, menos investimento em infraestrutura, mais ‘Custo Brasil’ e… menos confiança no país. A alta do juro básico americano deve aumentar a pressão por investimentos seguros tirando capital essencial dos países em desenvolvimento como o Brasil além de valorizar ainda mais a moeda americana, padrão financeiro global, trazendo ainda mais inflação e queda no PIB destes países.
Também nessa quarta-feira o governo mandou para o Congresso sua visão para 2016 com praticamente superávit primário zero. Tudo pelo social do PT Forever, Bolsa Família e outros quetais. Bye, Bye Levy. O mercado já havia precificado a figura decorativa também deste ministro, mas é mais um tremendo péssimo sinal para os investidores estrangeiros (e quem, sério e competente, vai querer pegar esta batata quente do fogão da Dilma?)
No panorama político parece que retrocedemos às confusões do século passado. O presidente do Senado é acusado de receber propina (quem não sabia?), mas como é aliado do governo, juiz do STF encarregado do caso nega prosseguimento de investigação. O da Câmara (que é um crápula, mas contra o executivo) teve seus imóveis revistados e por consequência pedido de afastamento pela PGU por atrapalhar investigações. A comissão de Ética do Congresso (!!!!) aprova início da ação de impeachment… do presidente da casa (Ufa) após catilinárias de oito sessões da ‘tropa de choque’ do investigado. A liderança do PMDB na Câmara volta ao destituído, favorável ao governo: mais uma briga pela frente sem previsão de solução, pois o agora destituído e seus pares vão recorrer. O rito do processo de afastamento da presidente da República está praticamente confirmado pelo STF, mas…. Mas… tudo para e só volta a partir de fevereiro, por que nesta república ‘tropicaliente’ – o STF, Judiciário, Congresso, Câmaras, e quiçá o que mais vai descansar 40 dias… Que se dane que o país está parado e na sua pior crise econômica desde depressão de 1929!
Como não poderia deixar de ser a crise não seria completa sem algum evento social e um juiz de 1ª instância em São Bernardo do Campo, a procura de seus 15 minutos de fama, determinou na calada da noite o bloqueio da rede social de comunicação WhatsApp, deixando ‘apenas’ 100 milhões de brasileiros órfãos por 48 horas por não fornecer dados confidenciais em processo policial. Como sempre nestas horas, quanto maior a aberração, menos o brasileiro pode saber os porquês. ‘Segredo de Justiça’! (seria melhor chamar de Segredo de Injustiça ou tapume para possíveis maracutaias). Unimo-nos a China, Rússia, Coréia do Norte, Burma – ‘verdadeiros pilares’ da democracia digital globalizada. Prevaleceu o bom senso e 12 horas depois, desembargador corretamente cancelou a medida, mas ficou a péssima imagem do país no exterior – afinal somos um dos quatro maiores usuários desta rede social (sinal de incompetência, falta de concorrência e cartelização dos serviços de telefonia).
A economia é agora comportamental, não cansamos de dizer e percepção é fundamental. Teremos certamente um Natal dos piores vistos nos últimos anos, pois consumidores – inseguros se terão seus empregos em janeiro – vão guardar o que podem de seus 13º salários. Queda de consumo das famílias significa menos pedidos para a indústria e por consequência desemprego, além dos milhares dispensados nestes últimos dias na indústria pesada e naval, fruto da paralisação da Petrobras e seus investimentos.
Enquanto isso, na frente externa vem o exemplo de como estamos ficando para trás, e logo de ‘nuestros hermanos’! O recém eleito Macri, derrotando o candidato da presidente Kirchner (coleguinha de Dilma) – extinguiu o controle de compra de dólares, eliminou impostos de exportação, tenta acordo com investidores estrangeiros sobre a dívida externa e acabou com o acordo com o Irã, que permitia encobrir os ataques terroristas na AMIA em Buenos Aires em troca de um escambo de petróleo por comida e armas, motivo até da morte do último promotor encarregado do caso. ‘Arriba Argentina!!!
Nem no esporte conseguimos evitar a quarta-feira negra: mutretas colocam de novo a mesma claque de corrupção e incompetência de volta na CBF com decisão judicial de mais uma juíza nos seus 15 minutos de fama. É tanta notícia ruim que nem as gafes incontáveis da presidente em seus discursos ou acusações de troca de favores do atual ministro da Educação, tiveram tempo de ser amplamente divulgadas.
O consumo parou. A produção parou. O investimento parou. A educação parou. A infraestrutura parou. A confiança nas instituições parou. A segurança jurídica parou. Ou se faz algo de drástico contra tudo isso ou depois desta quarta-feira negra, cada vez mais a Venezuela de hoje, pode ser o Brasil de amanhã… Não há agronegócio que segure tantas tempestades perfeitas.
*Economista (USP), mestre em Marketing (Michigan State), professor das Faculdades Reges.