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Após importante e inédita vitória oposicionista na Venezuela, o país assiste, mais uma vez, o acirramento do embate político entre grupos de apoio e contrários ao governo do presidente Nicolás Maduro. O imbróglio teve início em 30 de dezembro de 2015, quando a justiça venezuelana acatou uma denúncia de compra de votos de três deputados oposicionistas, eleitos pelo estado do Amazonas, determinando a impugnação das candidaturas em caráter provisório, enquanto ocorressem as investigações. Mesmo tendo obtido uma vantajosa maioria parlamentar com 112 cadeiras ao total, a perda destes três deputados faria com que a oposição ficasse com menos de 110 votos, isto é, menos de dois terços da Assembleia. Na prática, os grupos opositores não poderiam mais destituir autoridades de outros poderes, convocar o referendo revogatório de mandato do presidente Nicolás Maduro, nem aprovar emendas constitucionais com essa redução de cadeiras. Por este motivo, surgiram críticas internas e externas sobre os poderes Eleitoral e Judiciário, cujas atuações recorrentemente favoráveis ao governo foram apontadas como provas de sua falta de independência frente ao poder Executivo e ao PSUV, Partido Socialista Unido de Venezuela, fundado por Chávez.
Em 5 de janeiro, dia em que os recém-eleitos puderam assumir seus cargos, a oposição retirou do plenário os quadros de Hugo Chávez e Simón Bolívar, o que simbolicamente demonstrava a intenção de iniciar um novo momento na política venezuelana. Mesmo com a determinação da justiça, o novo presidente da Assembleia Nacional, Henry Allup, decidiu empossar os deputados impugnados. Como reação a tal desobediência, o Tribunal Superior de Justiça tornou inválidas todas as ações do parlamento tomadas desde o dia da posse dos novos deputados. Paralelamente foram veiculados áudios que revelam conversas telefônicas envolvendo o alto escalão do governo de Amazonas, incluindo o próprio governador Liborio Guarulla, em que fica clara a intenção de manipular os votos daquele estado, sem dar espaço para interpretações subjetivas. Guarulla, em sua defesa, alega que o governo chavista não quer reconhecer os votos de seu estado por motivos de racismo, que embora não seja tão denso demograficamente, é composto por uma maioria indígena.
Desta forma, mais uma vez tem lugar na Venezuela uma escalada de tensões entre os principais grupos políticos, o que acaba por agravar ainda mais a situação econômica. No início de 2016, o presidente Maduro mudou sua equipe econômica e anunciou novas medidas para reverter o quadro de recessão profunda. Enquanto não houver uma construção de consensos políticos em torno do principal problema do país, fica difícil vislumbrar uma melhora na vida dos venezuelanos. Contudo, a disputa pelos espaços de poder torna-se cada vez mais acirrada, o que não necessariamente se reverte em benefícios para a população, cujo voto de confiança na oposição revelava o anseio por dias melhores.
*Mestre e doutoranda em Relações Internacionais pelo programa San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP), pesquisadora do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais da Unesp e professora da ESAMC-SP.
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