Numa terça-feira de Carnaval, ano 2000, estava no palco do ABD, revisando o som bem como selecionando e distribuindo as partituras das tradicionais músicas mais solicitadas que seriam executadas no decorrer da noite. Naquele momento, aguardava a chegada dos músicos, pois era a última noite de Carnaval, aos poucos, foi chegando, via-se, no semblante de cada um o ar triste, deixando transparecer em seus rostos uma saudade emparelhada com a lembrança do Carnaval que ia se findando, era realmente a última noite de Carnaval em que nós músicos animaríamos juntos aqueles grandiosos animadíssimos bailes. 

Salão enfeitado, ostentando bela ornamentação típica carnavalesca fora e dentro do salão, jogos de luzes na frente do conjunto, belíssima decoração, aguardava com ansiedade o momento para tocar o prefixo tradicional Zé Pereira e, a chegada dos foliões para iniciar o baile da última noite de Carnaval.
Afinamos os instrumentos, damos o início com o prefixo Zé Pereira aos poucos as belas melodias escoam pelo salão, misturando com a alegria de todos que respondiam com seus sorrisos, que ao jeito de cada um improvisavam as mais belas coreografias, povo educado, alegre e ainda um coral de vozes cantando as marchinhas. Espetáculo lindo e maravilhoso. No salão, uma bela garota fantasiada ela sorrindo para mim, atirava serpentina, a beleza das fantasias, o brio das lantejoulas, os confetes, as serpentinas, o lança perfume, o sorriso alegre dos foliões contagiavam e alegravam os corações dos participantes.
Como que num piscar de olhos terminou a noite, tocando o grande sucesso musical: ”Ai, ai, ai, ai está chegando a hora, o dia já vem rompendo meu bem, eu tenho que ir embora….” ao despedir, via-se o clarear do dia tomando conta do salão, e as luzes que tanto brilharam a noite foram se empalidecendo, perdendo seu brilho levando consigo a beleza, o brio e alegria das noites de mais um carnaval que se findava, momento que para mim jamais existirá. A vida era cor de rosa, o tempo passou, nossas vidas mudaram, só o tempo permanece firme desafiando tudo. Quinze anos se passaram, vários amigos (as) se foram morar com Deus. Resta a saudade como uma ponte ligando o passado ao presente ao rever por meios das fotografias. Aquela plateia não mais existe, os garotos envelheceram e mais antigos são poucos demonstrando assim que a história não se repete no tempo nem no espaço. Tive a grande felicidade de tocar os primeiros e os últimos Carnavais, tanto no X.T.C, como no ABD, compartilhei alegria de um grande público que demonstrava felicidade com tal acontecimento.
Carnaval, a festa que se tornou o cartão de visita para Dracena, foi considerado como sendo o melhor Carnaval de clube nas décadas de 1950 a 2000 em toda região.
Por duas rotas chegou o Carnaval no Brasil. A primeira partindo da África, de onde os negros, junto com seus cantos e suas danças, contrabandearam, inconscientemente, a semente do Carnaval. A outro, Europeia, trouxe de Portugal, o entrudo carnaval de então que consistia, basicamente, em jogar de tudo, em todos e a tradição do Zé Pereira.
Houve a união destas duas culturas que, além da Mulata, nos deu o Carnaval. Vimos que o Carnaval é, antes de tudo, uma entidade viva, para muitos, até humana. Não podemos deixar o Carnaval desaparecer para sempre, nós brasileiros estamos sentindo grande desafio e tristeza pelo momento que estamos vivenciando, necessitamos de alguns dias de folia para extravasar o estresse que estamos vivendo com a crise atual. Vamos anunciar a realização do Carnaval e verá que o povo gosta de alegria e da folia, e comparecerá em massa no clube.
Tive a felicidade de animar com o meu conjunto musical o primeiro carnaval em 1964, e, o último Carnaval realizado na ABD, em 2000. O primeiro em 1956 e o último em l995 no saudoso X.T.C.
Vamos gente, vamos realizar os bailes carnavalescos. Jamais quero repetir esta frase: “Adeus a última noitada de Carnaval”

*dracenense e juiz de paz.