No campo econômico o que não falta no Brasil atual é notícia ruim. No último relatório Focus do Banco Central um número que poderia ser comemorado é a previsão de redução da inflação em 2016. Fato parecido ocorreu há quase 20 anos, quando o IPCA anual recuou de 9,5% em 1996 para 5,2% em 1997. Em 2015 esse índice de preços bateu quase 11% e este ano deve fechar próximo de 8%. Ocorre que nem isso dá para comemorar porque a inflação esperada para 2016 é quase o dobro dos 4,5% definido pelo regime de metas de inflação, criado em 1999, e que o atual governo negligenciou. Além disso, cabe ressaltar que o IPCA será menor este ano porque o desemprego vem crescendo e a renda do trabalhador não para de cair, tudo por conta de uma recessão que fez a economia brasileira encolher quase 4% no ano passado. Este ano o recuo deve ultrapassar os 3%.
O Brasil vive um dos momentos mais críticos de sua história. O intervencionismo exacerbado e a política econômica de péssima qualidade foram devastadores para a economia nacional. O país sofre as consequências da irresponsabilidade e do desleixo no trato do dinheiro público. A credibilidade fiscal, conquistada a duras penas a partir do final dos anos 90, foi destruída.
O governo Dilma assumiu em 2011 defendendo maior intervenção na economia para acelerar seu crescimento. Achou que o voluntarismo seria mais importante para a expansão do PIB do que uma política econômica bem articulada e bem conduzida. Gradualmente deixou de lado os regimes de meta de inflação e de superávit primário acreditando que o modelo intervencionista manteria a atividade econômica se expandindo de maneira sustentável. Hoje o país paga caro por isso. O PIB recua fortemente e a inflação é uma das mais elevadas do mundo.
Os regimes de meta de inflação e de superávit primário não são suficientes para gerar crescimento econômico, mas proporcionam credibilidade e previsibilidade para os agentes domésticos e estrangeiros. O enfraquecimento de ambos gerou desconfiança e aumentou o risco na economia. O cenário ficou ainda pior por conta do intervencionismo crescente, que elevou os gastos públicos em troca de efeitos tímidos na economia.
O atual modelo econômico chegou ao fim. Não dá mais para se sustentar com base no consumo doméstico e ingerência na atividade produtiva. A classe média está endividada, com o emprego em risco e a inflação segue reduzindo seu poder de compra. A atuação errática do poder público na economia inibe investimentos privados.
O desmoralizado governo petista está destruindo o país. Andamos para trás e o que mais preocupa é que não há perspectiva de mudança nesse quadro. A atual gestão é inoperante e não tem credibilidade para tocar adiante reformas estruturais que vêm sendo adiadas há anos. Nem o ajuste fiscal, necessário para reequilibrar o orçamento, Dilma consegue levar adiante.
O desalento toma conta do país frente à onda de notícias negativas, ainda mais quando nos damos conta de que ainda restam três anos até as próximas eleições.
*doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas).