Xenofilia é a simpatia ou atração que se sente por pessoas ou coisas estrangeiras. Esse costume de privilegiar tudo que é estrangeiro em detrimento do que é de seu país tem se expandido entre muitos brasileiros de maneira nada saudável. Principalmente quando se trata da devoção a tudo que é americano, muita gente desdenha do que é nacional e fica se achando superior quando possui coisas importadas ou prestigia essa tendência de se americanizar.
Nélson Rodrigues, um dramaturgo brasileiro, já nomeava, há muito tempo, essa mania de desprestigiar nossas coisas como “complexo de vira-latas”. Imagine se um rico que não for a Miami, pode se considerar rico? Esse passeio, para ele, é considerado o seu batismo para o ingresso na alta sociedade. Quando conversar com amigos poderá contar sobre as avenidas e praias daquela cidade, das lembrancinhas que trouxe de lá, da limpeza das ruas e da gentileza das pessoas. Enfim, aquilo é um país de 1º mundo e, portanto, será muito elegante conhecer e relatar essa aventura.
Com isso temos uma avalanche de termos em inglês correndo de boca em boca. Da forma mais ridícula a menos inteligente vê-se a tentativa de valorizar produtos e comércio com expressões em inglês, onde se sobressai o desejo de se parecer refinado, esquecendo o objetivo da comunicação, que é o que todo lojista teria que procurar. Aí surge o “off” para descontos, o “black Friday” para queima de estoques, o “out let” para ponta de estoque ou refugo e mais uma baciada de termos para enganar os que querem aparecer como sendo da alta sociedade.
Num país onde a imensa maioria não sabe falar ou escrever corretamente, não tem o hábito de leitura e possui conhecimento quase nulo de tudo que acontece no mundo. Num país em que se repete, como papagaios, o que se ouve da televisão ou de um amigo em roda de bar depois de muita cerveja, exclamar aos brados uma série de baboseiras, ainda se utilizando de termos em outra língua para tentar disfarçar a própria ignorância.
O maior painel de ignorância é essa página da internet chamada facebook. Ali, muitas pessoas que nada conhecem, tentam demonstrar uma cultura atual ou histórica através de uma linguagem que dá medo a qualquer um que tenha o mínimo conhecimento da língua portuguesa. Termos descabidos, pontuação zero, concordância inexistente, grafia errada, enfim, se a pessoa que convive com a língua portuguesa desde que nasceu, que diz que frequentou escola por algum tempo, que se acha culto a ponto de dar palpites em todos os assuntos, não sabe manejar a língua nacional, que conhecimento pode ter de assuntos complexos como economia, política, saúde em que procura mostrar que é mestre?
A língua, que é um dos símbolos nacionais que mais cedo se conhece, nos dá a ideia da cultura que a pessoa traz consigo. Quando se conversa pela primeira vez com um indivíduo, é pela forma de se expressar, pela correção, pela clareza do que fala que se analisa seu grau de cultura. Não há outra forma. Não é pelos diplomas que possa exibir, não é pelos termos estrangeiros que possa usar ou pela narração das possíveis viagens que fez, que se vai lhe atribuir o conceito de pessoa culta ou a pecha de ignorante. Conhece-se o grau de cultura de alguém pela maneira com que se expressa em sua língua de origem e nunca pelas firulas superficiais carregadas de estrangeirismos, normalmente mal colocados.
A língua portuguesa é uma das mais lindas e sonoras que o ser humano conseguiu conceber e o seu conhecimento revela boa cultura e bom gosto.
Até quarta-feira
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– Dracena –