O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) afirmou no acordo de delação premiada fechado com o Ministério Público Federal que os dados fornecidos pelo extinto Banco Rural à CPI dos Correios atingiriam o senador Aécio Neves (PSDB-MG) “em cheio” se não tivessem sido “maquiados” pela instituição financeira.

G1 entrou em contato com a assessoria de imprensa do senador Aécio Neves, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Preso pela Polícia Federal suspeito de tentar obstruir as investigações da Operação Lava Jato, Delcídio está em recolhimento domiciliar por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O senador fechou acordo de delação, e o conteúdo foi homologado nesta terça-feira (15) pelo ministro do STF Teori Zavascki.

Em seu depoimento, Delcídio disse que, quando a CPI dos Correios autorizou a quebra de sigilo de pessoas e empresas, entre elas o Banco Rural, surgiu “certo incômodo” por parte do PSDB, incluindo o então governador Aécio Neves.

Ainda segundo Delcídio, Aécio enviou emissários à CPI para que o prazo de entrega das quebras de sigilo fosse “delongado”, sob a justificativa de que não haveria tempo hábil para preparar as respostas à comissão.

“[Delcídio disse] que, foi com surpresa que percebeu, ao receber as respostas, que o tempo fora utilizado para maquiar os dados que recebera do Banco Rural; […] Que os dados atingiriam em cheio as pessoas de Aécio Neves e Clésio Andrade, governador e vice-governador de Minas Gerais”, diz o documento do Ministério Público Federal.

Conforme Delcídio do Amaral, essa “maquiagem” dos dados teria consistido em apagar informações “comprometedoras” que envolviam Aécio Neves.

Na delação, Delcídio citou também ter ouvido do ex-deputado José Janene (falecido em 2010) que Aécio era beneficiário de uma fundação sediada em Liechtenstein da qual ele seria “dono ou controlador de fato”.

O senador, contudo, não soube precisar qual relação essa fundação teria com a “maquiagem” dos dados do Banco Rural.

Furnas
Aos procuradores, Delcídio do Amaral disse ainda que Dimas Toledo, ex-diretor de engenharia de Furnas, apontado como operador do esquema de corrupção que atuou na empresa, tem “vínculo muito forte” com Aécio.

Em outro trecho, o senador Delcídio afirmou que, durante uma viagem com Lula em 2005, o ex-presidente perguntou quem era Toledo, e Delcídio, então, o apresentou como “um companheiro do setor elétrico, muito competente”.

Lula, então, teria dito, segundo Delcídio, que, ao assumir, José Janene pediu a ele que Toledo permanecesse no cargo, assim como Aécio e o PT.

“Pelo jeito, ele [Dimas] está roubando muito!”, teria dito Lula a Delcídio, segundo o senador afirmou em sua delação premiada. Delcídio acrescentou que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu também havia pedido a Lula que Dimas Toledo ficasse no cargo.