A eleição de 1934 apresentou duas novidades para a política nacional. Segue, então, a homenagem ao Dia Internacional da Mulher lembrado destas figuras heroicas.
Para a Assembleia Constituinte foi eleita deputada: a médica paulista de origem europeia Carlota Pereira de Queirós, nascida em 1892. Primeira mulher a votar e se eleger deputada federal. Formou-se em medicina em 1926, já mostrando sua agudeza de espírito ao perceber o problema de uma doença cujo estudo iniciava, sua tese de final de curso foi sobre O Estudo do Câncer. Médica e educadora realizou estudos aprofundados na Europa sobre a Dietética Infantil. Longeva, morreu em 1982, deixando rico legado na militância médica e política. Foi eleita pelo revolucionário Partido Constitucionalista do Estado de São Paulo. De posse do mandato, tornou-se a voz solitária feminina na constituinte e ocupou-se na defesa da ordem constitucional e da valorização da mulher e da criança pela legislação brasileira. Exerceu o cargo até 1937, quanto Getúlio Vargas, fechou o Congresso, dando início à Era Vargas.
Outra rica novidade veio de Santa Catarina. A negra e educadora Antonieta de Barros elegeu-se deputada estadual. Nascida em 1901, foi a primeira deputada de seu estado e, tudo indica, a primeira negra numa assembleia legislativa estadual brasileira. Filha de lavadeira e órfã de pai, enfrentou a condição de inferioridade imposta aos negros depois de quatro décadas do fim da escravidão e, apesar da pobreza, conseguiu entrar na Escola Normal Catarinense formando-se professora de português e literatura aos 20 anos de idade. Com um ano de formada fundou o “Curso particular Antonieta de Barros”, fechado em 1964, para ensinar pessoas carentes num Brasil no qual, em 1920, menos de vinte e cinco por cento era alfabetizado e entre estes boa parte só sabia assinar o nome (http://seculoxx.ibge.gov.br/populacionais-sociais-politicas-e-culturais/busca-por-temas/populacao.html). Para Antonieta era preciso alfabetizar, pois o analfabetismo impedia as pessoas de serem reconhecidas como gente. Envolvendo-se no debate sobre os direitos civis acabou sendo eleita deputada estadual pelo Partido Liberal Catarinense em 1934, dedicando-se à luta em favor da educação, à participação da mulher na política e ao combate à discriminação racial.
Passaram-se oitenta e dois anos e os partidos políticos estão correndo desesperados para encontrar candidatas com a finalidade de cumprir a cota de trinta por cento exigida pela lei; continuamos vendo nossas câmaras de vereadores, assembleias estaduais e federal, senado abarrotados de homens e minguados de mulheres. Por certo as mulheres brasileiras têm todos os vícios e virtudes da construção antropológica da brasilidade e não serão as salvadoras de uma pátria cujo futuro depende da mudança de atitude de cada cidadão, Porém, ainda assim, falta feminilidade em nossos legislativos. A título de exemplo vejamos a quantidade de vereadoras em alguns municípios da região: em Dracena, nenhuma vereadora; Irapuru, uma; Ouro Verde, uma; Panorama, duas; Pauliceia, nenhuma; Pacaembu, uma; Junqueirópolis, apresenta o melhor quadro, três. Na média nacional, na eleição de 2012, somente treze por cento dos legisladores municipais são mulheres, mostrando o evidente desequilíbrio de gênero na política nacional.
Estamos nos preparando para uma nova campanha em meio a uma aguda crise de credibilidade da política em geral e, não em menor grau, e muito infelizmente, dos legislativos em todos os níveis da Federação Brasileira. Talvez seja tempo de novas Carlotas Pereira e Antonietas de Barros, independente de suas origens sociais, laçarem-se com propostas de mudanças na política e na sociedade brasileira. A maior sensibilidade social das mulheres pode facilmente ser vista pela quantidade de professoras se sacrificando com parcos rendimentos para oferecer educação aos brasileiros; também, na quantidade de mulheres que tomam frente nos movimentos de solidariedade; ainda, na competência para administrar a qualidade de vida dos familiares em tempos de dificuldades. Em meio a tanto desgosto lidos diuturnamente nos diários locais, regionais e nacionais, talvez eu tenha o gosto de votar em mulheres que, acredito, poderão ser pedagogas de uma sociedade brasileira melhor e médicas para curar o câncer da corrupção e do comodismo dos parlamentares que tornam moribunda a instituição política nacional.

Professor da Faculdade REGES de Dracena; Doutorando em Direito pelo Centro Universitário de Bauru (ITE-BAURU).