Há muitos problemas para serem analisados neste país e, entre eles avulta o problema da educação que tem sido debatido desde o tempo do Brasil império.

Entram ministros, saem ministros da educação e tudo continua mais ou menos da mesma forma, pois no seu conjunto, a situação continua crítica e isto desde as creches até o doutorado. O paciente leitor dos meus artigos foi informado dos planos, ideias e estratégias de vários dos mais ilustres pensadores todos em busca de soluções estruturais para esse crônico problema.
Eu mesmo, desde a década de sessenta – século passado – venho tratando do assunto em livros ou artigos de revistas. Ao mesmo tempo me questiono: Terei sido um bom professor? Estarei sendo justo e moral e eticamente em condições de criticar aqueles docentes que considero incompetentes? Não sei. Talvez sim, talvez não e digo isto porque, afinal, o professor é apenas um elo (muito importante) na corrente que representa o processo educacional. O melhor professor do mundo nada conseguirá se as condições do conjunto não são adequadas e favoráveis. Acredito que o inverso também é verdadeiro.
Apesar de tudo, em certos setores a situação melhorou um pouco valendo lembrar que até meados do século passado a maioria da população vivia e trabalhava nas lides agrícolas e era praticamente analfabeta. A escola era para a população urbana, mas continuavam de fora os estratos economicamente mais baixos dessa população. Os governos cuidavam melhor das escolas para as chamadas elites dominantes e, para as outras, as camadas mais baixas, o chamado povão, as sobras. Em S. Paulo, por exemplo para as elites havia prédios majestosos. Para os outros, muitas vezes as escolas eram instaladas em residências pobres e adaptadas. Eu posso testemunhar isso. Para filho de imigrante pobre não havia vaga nas grandes escolas. Fiz o primário numa dessas escolinhas que nem tinham sanitários para os alunos. E o pessoal lá de cima nos chamava de “gentinha”. A discriminação era evidente e vista como natural e até necessária porque era desta gente que se formava a grande mão de obra para a construção civil e outras atividades mais simples e de menores salários. Poucos dessa gentinha conseguiam sair dessa situação e galgar posições mais elevadas no meio social. Mas era muito difícil porque, para estes era uma espécie de “luta contra tudo e contra todos”. A maioria destes pequenos vencedores somente conseguiu fazer cursos superiores que funcionavam no período noturno.
Vou aproveitar um pouco deste espaço para informar alguns fatos interessantes. Em 2015 o Conselho Nacional de Educação editou uma resolução que, entre outras coisas, trata de aprimorar a formação de professores em nível superior. Eu creio que a ideia é voltada para o ensino privado, pois fala em “plano de carreira, dedicação exclusiva ou tempo integral a serem cumpridas em um mesmo estabelecimento além de reservar um terço da carga horária para atividades pedagógicas extraclasse.” É bom lembrar que isto já foi tentado outras vezes e, até hoje nada aconteceu. Já tratei deste tema num livro organizado por mim e minha filha adotiva Dra. Margarida publicado pela Unesp em 2009 quando analisamos um projeto do MEC sobre esse tema mas sem muita esperança de que a coisa funcionasse considerando a resistência dos proprietários das instituições privadas.
Por volta de 2012, um órgão da Unesco divulgou dados sobre a educação infanto-juvenil que colocavam nosso país em situação muito ruim bastante semelhante com o que ocorria em países africanos. Ao mesmo tempo os dados demonstravam as desigualdades regionais. Na capital paulista, cerca de 15% dos estudantes de 13 anos já usavam computadores e 46% das escolas tinham algum tipo de laboratório. Apesar dessa possível melhora o Sistema de Avaliação da Educação Básica admitiu que a posição do ensino no País estava longe de ser satisfatória chegando a julgar “trágica” a situação no ensino médio. Para amenizar um pouco esse cenário acredito que vale a pena mostrar o que a mídia informa em 5 de fevereiro deste ano: “Nota da rede estadual de S. Paulo sobe, mas ainda não atinge a meta” numa escala que vai de zero a 10 no Idesp; a nota no 1º ciclo do fundamental atingiu 5,25 e a meta é 7. No 2º ciclo nota 3,06 e a meta é 6. No ensino médio nota 2,25 e a meta é 5. Interessante observar que a média da região de Presidente Prudente é melhor que a do Estado. As tais metas são previstas para 2030. Sabe-se que países ricos gastam três vezes mais em educação. Já apontei aqui o que os maiores estudiosos afirmam: O Brasil gasta pouco e, pior, gasta mal já que alta porcentagem é consumida só nas vias burocráticas indicando que o problema mais sério talvez seja o de gestão facilitando o crescimento da corrupção.
E por falar em gestão vou mostrar o que está acontecendo com a educação no Estado de Goiás. A senhora secretária da Educação diz: “Empresário sabe mais de gestão que o educador” e, por isso ela defende a administração privada de colégios públicos que será testado em 2016. “A gestão dos colégios será feita pelas OSs e assim os diretores terão mais tempo para focar no pedagógico”. Será que isto dará certo? As OSs não são empresas de filantropia e terão seus ganhos. Em S. Paulo esse modelo está sendo aplicado nos hospitais e diz o governo que dessa forma há economia de 20% nos custos e 40% na produtividade. É difícil de acreditar que o profissional ganhando menos produza mais. É o que acontece com a famigerada terceirização.
É isso. Mais mexidas na educação e assim ela vai subindo a ladeira a passos de cágado.

*professor emérito da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Unesp e ex-diretor dessa mesma instituição.