O mundo todo está ansioso, temeroso em face das notícias constantemente vinculadas na mídia de que o planeta está nos seus limites. Um grupo de cientistas afirma que a terra está no limiar de um colapso ambiental e que a civilização já ultrapassou três de nove barreiras planetárias cujo rompimento pode levar a pontos de viradas no sistema terrestre e a possíveis catástrofes.

Outro fato que gera apreensão. A ONU estima que, até 2050, o planeta deve chegar a 9 bilhões de habitantes e que será necessário um aumento de 70% na produção de alimentos para suprir a população. Observa essa entidade que, pelo menos 25% do que o mundo produz de alimentos, são perdidos na cadeia produtiva durante a colheita, armazenamento e comercialização e aduz que, com a degradação dos recursos naturais não se sabe se o cultivo de alimentos acompanhará o crescimento populacional havendo a possibilidade de se agravar, ainda mais, a fome no mundo, sobretudo nos países mais pobres. Interessante lembrar que anos atrás, um grande pesquisador extremamente pessimista afirmou que a população do globo crescia exponencialmente enquanto a produção de alimento crescia com razão aritmética. (Lembrete para o leitor: razão aritmética significa soma já a razão exponencial multiplica. Exemplos: Razão 2 no primeiro caso será 2+2 =4 +2=6+2=8. No segundo caso em que há multiplicação: 2X2=4×2=8×2=16).
Vimos que tal catástrofe não aconteceu. O avanço da ciência e da tecnologia trouxe novas ferramentas melhorando consideravelmente a produção de alimentos. Mais uma ameaça. Esta em relação ao trabalho. No mundo atual, incluindo nosso País: Cerca de 80 milhões de jovens passam a pertencer à PEA (População Economicamente Ativa) que precisam trabalhar e devem entrar no mercado de trabalho a cada ano. Haverá oportunidade para eles? No caso do Brasil, este tema já vem sendo debatido há bom tempo.
No livro que organizamos sobre emprego e desemprego publicado pela Unesp em 2009, na página 107 já consta esta preocupação, realçando o que a mídia comentava sobre o futuro do trabalho considerando, em especial, os avanços em automação que, eliminam postos que exigem certa qualificação. Há tempos em 30/5/99, a Folha de S. Paulo colocou em manchete: “O que vai acontecer com o trabalho?” Dizia-se que, em poucas décadas, a jornada de trabalho deveria reduzir-se a cerca de 28 horas semanais para eliminar o desemprego que seria mais agudo no futuro.
Mais recentemente nesse mesmo jornal um jornalista comenta a performance de um computador em disputa com ex-alunos da Universidade de Harvard e diz que em todas as questões levantadas o computador venceu os humanos e daí ele intitula o seu artigo: “Haverá emprego para nós?” Especialistas da área acreditam ser inevitável a troca dos humanos pelas máquinas e ainda brincam dizendo que o computador não almoça, não sente emoções e estão imunes a problemas trabalhistas. Sabe-se, entretanto, que a máquina – sobretudo robôs – não são altamente qualificados e aí entra, necessariamente, a educação.
O que se pode deduzir é que a ONU aponta os problemas e a necessidade de melhorar o uso que os povos fazem dos recursos do planeta. Os países, de modo geral, não acreditam nas previsões catastróficas dos cientistas e apenas demonstram intenção de cumprir algumas das metas propostas mas não há, e nunca haverá, consenso. Os líderes de cada país pensam no bem-estar de suas respectivas populações e há muitas divergências entre eles. Alguns dos mais pobres acusam os mais ricos e desenvolvidos de terem maior culpa nos estragos feitos ao planeta e tentam, agora, jogar as responsabilidades sobre os pobres e emergentes.
Posto isto podemos dizer que seria muita ingenuidade acreditar nas intenções ou até possibilidades das nações cumprirem o que foi acordado. Cada país vai continuar na sua política costumeira. Haverá um alerta se realmente se constatar a eminência de uma catástrofe. Mas tem de ser de ordem planetária, capaz de atingir a maioria dos paises. Catástrofes localizadas como um terremoto, por exemplo, comove o mundo que procura fazer a chamada ajuda humanitária e só. Passa um pouco de tempo e tudo volta a ser o que era antes. Por isso, caro leitor, não devemos nos preocupar com o que os outros possam ou não fazer. Cabe a nós, como bons terráqueos, fazermos a nossa parte e, ao mesmo tempo, trabalhando para construir o melhor futuro possível para os que vierem depois de nós.
Lembrete final. Eu estava terminando este trabalho quando me chega às mãos algo que mostra a extensão da crise política e econômica que afeta o Brasil nestes últimos anos, praticamente desdizendo tudo o que disse antes. O papelzinho que tenho aqui é uma ironia que fazem com a senhora, até domingo, nossa presidente e publicado no Facebook: “O único jeito da Dilma evitar o impeachment é criando 171 ministérios. Outro quadro diz: A Dilma é 10 e completa; 10% de inflação; 10% de desemprego, 10 milhões de desempregados. Ao mesmo tempo José Simão na Folha diz, com base no áudio do vice Temer, acaba esculhambando tudo com a frase em latim vergonhoso: “Pimontorium in anus outrem refrescus est”. E agora, como é que nós ficamos?

*Professor emérito da Faculdade de Ciências e Tecnologia a Unesp, foi diretor dessa mesma instituição. Contatomaralegre@ig.com.br