A importância do tempo obrigou o homem a estabelecer calendários para a medida desse tempo e organizar a vida das pessoas na terra. Dentre todas as fases do calendário gregoriano que regula a nossa vida foi instituído o chamado ano bissexto, que é o ano em que o mês de fevereiro tem mais um dia e ocorre de quatro em quatro anos para compensar as horas que sobram a cada ano. E aqui, a título de curiosidade, eu pergunto aos caros leitores: Em quais anos do calendário ocorrem o ano bissexto? É simples: será bissexto o ano cujos dois últimos algarismos divididos por quatro não deixam resto.
Observa-se que, de imediato os anos ímpares não podem ser bissextos. Alguns exemplos: 2014 poderia ser? Não, pois 14 não é divisível por quatro. E 2016? Sim, assim como 2020, 2024 e todos os seguintes de quatro em quatro anos. Vou, agora, informar o nosso leitor de alguns fatos relacionados ao título deste trabalho que se trata de um livro da coleção “O homem e o universo” de Hernani Donato – Edições Melhoramentos, em 1958.
O autor começa assim: “Não há um só momento em que o homem esteja livre das preocupações ou das limitações que o tempo impõe. E isto, não só com referência a um breve giro do relógio ou com a sugestão de folhinha sobre a mesa. Tudo e sempre, fala do tempo que se escoa sem avanço e sem atraso, fazendo sentir-se no amadurecimento dos frutos, na ida e vinda do frio e do calor, da chuva e da estiagem, na infância que se torna juventude e na velhice que tateia a morte. O homem não pode fugir ao sacrifício que o tempo lhe exige. Mas esse mesmo homem passou toda a sua história criando sistemas, construindo aparelhos, apelando para os astros no esforço de conhecer, medir e, se possível, prender o esguio, o inexorável aliado, mas também inimigo e verdadeiro carrasco – o tempo!”
Há muitos milênios as impressões do ambiente deram ao homem a noção de obediência a uma ordem superior alheia à força de seus braços e de sua inteligência e viram que não poderiam domar o tempo com seus minguados recursos por isso o homem voltou seus olhos para o céu e seus astros que já eram muito conhecidos. Na Bíblia Sagrada, em Gênesis, a descrição prodigiosa do Hexaemeron – obra dos seis dias da criação do mundo – ensinava aos crentes que no quarto dia, ao criar três categorias de astros (sol, estrelas e a lua) com a missão de iluminar a terra, distinguir os dias das noites e marcar a porção de tempo. E assim os povos primitivos contam tudo isto nos seus livros e seguem, religiosamente, o que ali está exposto.
Dos astros vinham-lhe a luz e a treva o frio e o calor, a esperança e o medo. A partir do estudo dos astros e seus movimentos viriam também os dias, as semanas os meses e os anos. O dia é a base de todas as medidas de tempo e foi dividido em duas partes: O dia quando tudo estava claro e a noite a escuridão. Sabe-se que os povos primitivos tinham predileção pelo número doze e usaram essa predileção para contar as horas do dia dividido em duas partes. Portanto 12 horas o dia claro e 12 horas a noite que os homens chamavam-na de tenebrosa e era odiada.
Mas o homem, à medida que avançava em seu conhecimento, precisava fracionar a hora e decidiram dividir a hora em 60 partes iguais e diminutas dando origem ao minuto. Mais para frente, nova divisão igual à primeira e, por ser a segunda deu origem aos segundos.
Mas o homem não está satisfeito com o segundo porque descobriram que ele não tem duração uniforme e assim um congresso de astrônomos reunidos em Dublim (Irlanda) em 1955 determinou que o segundo deixaria de ser fração do dia para ser calculado como fração do ano.
Por fim, o homem dominando as medidas do tempo bastava saber que entre dois nascimentos do sol mediavam 24 espaços denominados de horas, 1.440 dos chamados minutos e 86.400 dos ditos segundos. Por alguns milhares de anos o Homem permaneceu satisfeito.
Eis aí meu caro leitor um ligeiro apanhado de como o homem teria domado o tempo. Trata-se de um tema fascinante e o livro que me serviu de base tem 186 páginas que vale a pena ser lido e verificar como nossos avós trabalharam na tentativa de domar o tempo. Na verdade o homem não conseguiu domar o tempo. Conseguiu apenas fracionar o tempo e viver de acordo com as suas possibilidades. Creio até que vale contar uma brincadeira que se fazia tempos atrás: “O tempo perguntou para o tempo quanto tempo o tempo tinha e o tempo respondeu para o tempo que o tempo não tinha tempo”. (Algum riso, por favor!)

*professor emérito da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Unesp de Presidente Prudente e ex-diretor dessa mesma instituição.