O título e a ideia inspiradora ficam inicialmente creditados ao teólogo Paulo Botas. Trata-se de reverência a seu ensinamento em sala de aula, nos tempos de seminário teológico. Nunca me esqueço de sua analogia entre os seres humanos e as árvores. Destaco que a palavra radical aqui é tomada no sentido de raízes fortes e profundas e não como fundamento de radicalismo. Enquanto o radical, sustentado da estabilidade de suas bases, transforma sua conduta em radicalidade; o raso, pela insegurança da falta de lastro, assume sua conduta e suas ideias com radicalismo. Neste sentido, os radicalismos nada têm de radical.

No sentido literal das palavras, os humanos se dividem entre os com poucas e superficiais raízes, denominados de rasos, e os com fortes e profundos alicerces, chamados de radicais. Isto porque os homens, do ponto de vista do vínculo com a terra, são como as árvores. A copa, os galhos, o tronco e os frutos encontram seus fundamentos em bases escondidas no ventre da terra da condição humana.
O homem (homo) é literalmente irmão da terra (húmus). Ele cresceu do solo fértil e nele encontra plantadas suas raízes. Os rasos possuem as raízes voltadas para dentro de si. Elas são poucas e sem profundidade. Tateiam na aparência do mundo. Passam longe do amor; pelo mesmo motivo não são amados. Os rasos vivem sem-paixão, por isto não têm com-paixão.
Para conhecer o amor e o ódio é preciso estar mergulhado profundamente na piscina do relacionamento e comprometido com o ser humano. A superficialidade produz a indiferença e sua consequência é a banalização do mal. Ele não vê a dor alheia, nem a sente.
Os radicais possuem raízes voltadas para fora de si. Muitas ou poucas, elas são profundas. Plantados na profundidade do mundo vivem com-paixão. Amam e odeiam; são amados ou odiados, pois só pode conhecer o amor e o ódio quem é apaixonado. Navegam nas incertezas e levam muitas outras pessoas em seu barco. Seus projetos são constantemente refeitos, pois há neles tantos erros quantas grandiosidades. Os radicais enfrentam as tempestades de pé; quando ela é forte demais, eles se dobram para não quebrar.
Os rasos vivem para si e pouco se importam com os outros. Os radicais vivem para si e para os outros. Quando os rasos partem, a superficialidade de seus vínculos apaga rápido sua memória. Quando os radicais partem, a força de seus compromissos com os semelhantes provoca eternas lembranças.
A única bandeira levantada pelos rasos tremula no vazio elevando diante dos outros seu egoísmo; seu interesse particular o move em tudo que faz. Na bandeira dos radicais o lema é a melhora do mundo; não confundem seus projetos pessoais com o futuro da sociedade em que vivem. O compromisso dos rasos é com sua família e seu patrimônio. O compromisso dos radicais é com a vida. A fragilidade e a superficialidade dos rasos os obrigam a viver de radicalismos. A segurança e a profundidade dos radicais resultam em radicalidade. Os rasos riem da dor alheia; os radicais choram com o sofrimento do outro.
Os rasos sugam a terra. Os radicais dessem suas raízes até encontrar a seiva da vida: o amor. E com o amor produzem a solidariedade, constroem a paz, buscam a justiça, participam da inclusão social e criam oportunidades para os outros. O futuro exige mais radicalidade e menos radicalismos.

*Professor da Faculdade Reges de Dracena; mestre em Direito (Teoria do Direito e do Estado) pela UNIVEM (Marília); doutorando em Direito (Sistema Constitucional de Garantia de Direitos) pela ITE-BAURU.