Parece que estamos vivenciando um equívoco em relação ao grande evento esportivo a ser realizado pela primeira vez no Brasil e na América do Sul: torcer contra o sucesso dos jogos para resolver os problemas nacionais. Desejar a própria derrota nos jogos não soluciona os problemas sociais e administrativos provocados pela incompetência e corrupção dos gestores públicos e por falhas históricas na organização da sociedade brasileira existentes independentemente de Copa do Mundo e de Olimpíada. A corrente negativa atrapalha dezenas de jovens esportistas que se prepararam com empenho ao longo dos anos, muitos com o apoio exclusivo da família e com seus próprios recursos e impede de tirar proveito econômico deste momento em que olhos do mundo se voltarão para o Rio e para o Brasil.

Pesquisa realizada pelo Datafolha revelou que 63% dos brasileiros acham que os jogos trarão mais prejuízos que vantagens e que 50% são contra sua realização. Revela ainda outra importante informação: somente 40% dos brasileiros são favoráveis à Olimpíada. A rejeição cresceu de 25% em 2013 para os atuais 50%. Isto é, quanto mais perto do evento maior a rejeição.
A culpa desta visão equivocada da opinião pública está na inversão da ordem dos fatores, isto é entre o que é causa e o que consequência dos problemas vivenciados nos últimos meses. Neste caso as desorganizações, desmandos, desvios de dinheiro, obras inacabadas, corrupção e crescente violência não são consequências da realização dos Jogos Olímpicos.
Criticar a realização da Olimpíada equivale a atacar as consequências para tentar solucionar as causas. Nesta altura, depois de sete anos de preparação, a expectativa negativa não modifica os erros cometidos na organização e nas construções preparatórias; bem como, não soluciona os problemas sociais decorrentes da ausência secular do Estado nas periferias do país e assim como em nada modifica a moralidade de nossos homens públicos.
A construção psicológica da negatividade pode levar a nação inteira ao absurdo de torcer contra seus próprios atletas. O estímulo à oposição aos jogos prepara o ambiente mental para sentir felicidade em perder somente para provar que tudo está errado. Os derrotados com a torcida negativa serão nossos jovens que se prepararam seriamente e que veem no RIO 2016 a oportunidade de subir ao pódio ou de vencer mais uma vez os limites humanos. Os derrotados seremos todos que sofreremos as consequências de ensinar ao mundo a não acreditar no Brasil.
O necessário e difícil é atacar as causas. Como tornar a presença do Estado mais efetiva através de políticas sociais inclusivas? Como minimizar a miséria econômica e cultural que fragiliza jovens arrebatados posteriormente pela criminalidade? Como diminuir a corrupção através de legislação eficiente que crie mecanismos desestimuladores? Como acabar com a incompetência e ineficiência da máquina pública? Não vamos resolver isto torcendo contra nossos competidores.
Não é desejando o insucesso na Olimpíada que melhoraremos o Brasil, mas tornando mais efetiva nossa cidadania e combatendo as causas especialmente da violência e da corrupção, dois focos de discórdia no Rio 2016. Faltando 15 dias para o início dos jogos é hora de uma grande corrente positiva para apoiar e estimular a vitória de nossos atletas; é momento de aproveitar as oportunidades econômicas trazidas pelo evento. Que a vitória nos campos, quadras, pistas e ringues mostre nosso potencial para resolver e superar problemas, inclusive os políticos e sociais.

* Professor da Faculdade Reges de Dracena, mestre em Direito (Teoria do Direito e do Estado) pela UNIVEM (Marília); doutorando em Direito (Sistema Constitucional de Garantia de Direitos) pela ITE-BAURU.