O mandato do deputado Eduardo Cunha ganhou mais um suspiro com o adiamento da sessão de quarta-feira (13/7) da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) que discute um recurso quanto à anulação da decisão do Conselho de Ética que definiu a sua cassação. Quem acompanhou o desenrolar da sessão deve ter ficado perplexo com as manobras utilizadas para procrastinar a decisão. As idas e vindas do presidente em exercício Waldir Maranhão quanto ao início da eleição do novo presidente da Câmara foi outra situação deprimente.
Muito disso se deve ao fato de que Cunha, na condição de Presidente da Câmara, mobilizou a estrutura administrativa da Casa para sua defesa. Ademais, ele conta com um grande contingente de deputados que lhe devem favores por intermediar os recursos com os quais muitos deles foram eleitos, tal como mostra a Operação Lava Jato.
Apesar de ser o novo “inimigo público número um”, Cunha não é um ponto fora da curva. Talvez ele seja a personificação dos vícios em que está mergulhado o sistema político brasileiro. Ele não é o inventor do “caixa dois”. Tampouco criou o esquema simbiótico que une as empreiteiras ao sistema político-partidário. Também não foi o primeiro político que se enriqueceu, tal como denuncia o Ministério Público Federal. Mas Eduardo Cunha é hoje o ícone da falência do sistema político brasileiro.
Dessa falência surge a proeminência do Judiciário, que sempre é chamado para resolver problemas que o Legislativo se recusa a fazer. O presidencialismo de coalizão está moribundo. Todo o sistema carece de representatividade. As coligações eleitorais dão margem ao efeito “Tiririca”. O financiamento eleitoral abre a porta para a corrupção. Aparatos como clubes e igrejas são manipulados escancaradamente durante as eleições. Há uma profusão de partidos nanicos, que antes de expressar uma parcela da opinião pública são verdadeiros balcões de negócios.
A cassação de Cunha não irá resolver nenhum problema de fundo. Apenas dará à opinião pública um boi de piranha para que o sistema continue a se reproduzir. O governo de Temer tem inúmeros outros “Cunhas” que se escondem sob o discurso da moralidade e que logo podem ser tragados por operações jurídico-policiais. Uma reforma profunda, nos marcos desse Congresso, mostra-se impossível, visto que são os representantes atuais os beneficiários do caos do sistema político. Cabe perguntar, de onde virá a força para refundar a República? Teremos que esperar por algum Messias?
*Professor do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas – Unesp-Marília.