Existem duas formas de se compreender o destino: a teleológica e a consequencial. O destino teleológico consiste na crença de que todos nascem com a história já escrita no livro da vida ou da natureza. O termo árabe maktub (já estava escrito – está escrito assim será) representa bem esta compreensão. Os acontecimentos decorrem da vontade determinadora de todas as condições dos indivíduos e da história. Já nascemos condenados ou premiados a viver o pesadelo ou a alegria da vida.

Os gregos antigos entendiam o destino como consequencial. Para eles, três moiras presidem a sina dos homens. Elas são: Cloto, aquela que sabe tecer o fio da vida, uma das deusas responsáveis pelo nascimento; Laquésis, aquela que distribui o quinhão de cada um puxando o fio e colocando-o no tear; e Átropos, a que sabe cortar o fio e, por isto, preside o fim da vida. As três moiras sentam-se no tear para dar forma aos fios produzidos pelos indivíduos. Elas fazem o tecido, mas a fiação depende das experiências individuais. Cada um entrega a ponta do fio de suas condutas para serem juntados e originar o tecido de seu futuro.
Na visão teleológica o indivíduo encontra a trama da vida pronta; na visão consequencial ele constrói o destino com o encadeamento da própria existência. Se para a primeira a boa imagem da solução dos problemas é a luz no final do túnel; para a segunda a luminosidade vem da entrada do túnel. Não há soluções mágicas para os problemas das sociedades e dos indivíduos, pois o futuro condensa o resultado das ações humanas.
O drama do presente cresce sobre o estofo do passado e seu conserto dependerá sempre da qualidade dos fios confeccionados pelos indivíduos. Assim, as moiras continuam pedalando no tear para entrelaçar as linhas e produzir o porvir. Trata-se de destino porque determinada qualidade de fio produzirá necessariamente a equivalente qualidade do tecido. Isto vale para o indivíduo e, de certo modo, serve para entender a sociedade e suas instituições.
A política e a administração pública são exemplos de texturas resultantes do encontro entre os fios das condutas individuais. A qualidade das linhas gera como resultado final o grande tecido desfraldado sobre todos. O difícil é reconhecer que nesta grande costura está presente a pequena linha representada pelo modo como se vive.
Pensando no destino consequencial, atrevo-me a deixar na mensagem da semana a preocupação do antigo homem grego: qual a qualidade do fio que estou tecendo? Isto é, o modo como vivo e resolvo meus problemas está gerando qual tipo de trama social e política? O tecido é antecedido e depende da qualidade de suas fibras ou fios.
As Moiras continuam colocando no alto do tear os filamentos saídos das condutas cotidianas dos indivíduos. Já podemos avaliar a qualidade média das condutas passadas pela trama que acompanhamos cansados e aborrecidos todos os dias pelos jornais. Mas e o futuro? Os fios individuais serão cortados e a vida chegará ao fim. Ficarão os filhos! O que fazemos e o que os ensinamos a fazer para cortar de vez as fibras do jeitinho brasileiro cujo tecido, se nos beneficia individualmente, condena-nos coletivamente?
Ajudemos a mudar o Brasil para melhor exigindo os direitos e cumprindo as obrigações, não aceitando e nem ofertando vantagens pessoais! Pois, o que coloca em risco a coletividade e o bem comum não é vantajoso para ninguém. Acredito que em ano eleitoral esta admoestação merece destaque.

* Professor da Faculdade REGES de Dracena; Mestre em Direito (Teoria do Direito e do Estado) pela UNIVEM (Marília); doutorando em Direito (Sistema Constitucional de Garantia de Direitos) pela ITE-BAURU