Todos nós convivemos com frases chatas – aquelas que as pessoas insistem em nos dizer especialmente quando algo desagradável acontece. Uma delas é a famosa ‘Eu Avisei!” ou nas suas outras versões – “Eu bem que avisei” ou “Eu falei!”. Lembro muito bem das entrevistas feitas com o Primeiro Ministro de Israel e com um ex-chefe da Mossad – o serviço secreto externo de Israel (o interno como o FBI é a Shin Beth) na ultima década do século passado, quando os órgãos da imprensa internacional questionavam as práticas utilizadas no combate ao terror fundamentalista islâmico por parte do estado judaico. Homens bomba se explodiam em ônibus e cantinas em Jerusalém, em boates e Pizzarias em Tel Aviv, ou em qualquer lugar que a população civil se reunisse, logicamente para causar o maior numero de vitimas possíveis.
Diziam os Israelis uma frase que até hoje é difícil de sair da cabeça: “Nós somos apenas a primeira trincheira – em breve vocês terão em vossas cidades as mesmas ameaças”. O muro em Jerusalém foi construído, as inspeções mais aperfeiçoadas e principalmente – um “upgrade” na coleta de informações via unidades especiais como as Sayeret Makal e Mistaravim, que operam em território inimigo. Derrotar o terror é impossível: seria necessário mudar gerações de lavagem cerebral e doutrinação religiosa iniciada no começo do século passado com o Mufti de Jerusalém, financiado por Hitler e que mesmo depois do fim da guerra, criaram (e foram treinados por ex-oficiais nazistas que fugiram para o Egito) organizações terroristas como a Irmandade Muçulmana, a OLP de seu sobrinho Yasser Arafat – no Egito, que depois se ramificaria no Hamas, o Hezbolah e agora a Al Qeda e o Isis.
Os Europeus nunca acreditaram que esta doença pudesse chegar nas suas cidades e os americanos muito menos, invocando a invencibilidade de seu território continental até 11/9. Mas ela veio, e com a mesma insanidade de atacar civis ensinada por Otto Skorzeny, o oficial nazista alemão que se tornou assistente de Nasser no Egito. Seus fedaym foram os primeiros dessa leva, chegando a matar 256 civis israelenses em 1956 que resultou na Guerra do Sinai naquele ano. Agora assistimos os resquícios destes ensinamentos nas bombas no metrô e ônibus de Londres, Paris e Madrid. Em concertos de rock e restaurantes também em Paris e em território continental americano.
Quantos foram os que criticaram as medidas draconianas que as forças de segurança de Israel tomaram quando recentemente começou a onda de ataque a faca por terroristas a civis em Israel? De repente Israel tinha virado um estado segregacionista, fascista, racista e outros “istas”. Esta semana tivemos um ataque a faca num shopping center em Minnesota e explosões de bombas em New York e New Jersey.
Agencias de segurança americanas e até os fuzileiros tem ido a Israel nos últimos anos para aprenderem como lidar com o terror islâmico, mas muito tem ainda que ser feito – do uso extensivo dos K9 no dia a dia do patrulhamento, do uso de perfil étnico-religioso pelas forças de inteligência e das mudanças no conceito de barreiras de segurança por exemplo.
Se um terrorista resolver explodir uma bomba ou se auto imolar no saguão do Aeroporto daqui em San Diego, não vai ter muita dificuldade assim como no movimentado aeroporto Tom Bradley (LAX) em Los Angeles. Não existem como no aeroporto Ben Gurion em Tel Aviv, barreiras de segurança em até um quilometro antes do saguão internacional. Tudo pela liberdade de movimento e garantia dos direitos individuais que os americanos cultivam até o extremo. As agencias de segurança interna americanas, por exemplo, estão quase proibidas de realizar ‘profiling’ ou criar métodos de analise e prevenção baseados em perfis étnicos, religiosos e culturais, sob o risco de serem taxadas de racismo, o que por aqui é atualmente é meio delicado devido às recentes ondas de violência policial contra minorias afro-americanas nas cidades do sul do país e as intensas críticas que geraram – até de jogadores profissionais de futebol americano que se recusam a ficar de pé no hino nacional. A eficiência de qualquer rastreamento e prevenção diminui exponencialmente pois o universo pode incluir Chinatown ou JapanTown, onde certamente a possibilidade de encontrar um terrorista islâmico fundamentalista é no mínimo, remota.
Tudo isso tem feito a alegria recente de Trump e puxado o tapete de Hillary Clinton pois Trump foi rápido em enfatizar a necessidade de colocar um freio total na entrada de muçulmanos no país assim como utilizar o ‘profiling’ israelense nas comunidades muçulmanas dos EUA (sem contar o Muro com o México…) Pode desagradar estas comunidades, mas agrada milhões de eleitores americanos que querem ir com segurança ao aeroporto, ao Shopping Center ou ao jogo de baseball. Ainda não chegamos ao ponto de histeria, mas em New York é perceptível a tensão especialmente no centro, altamente populoso e movimentado.
Os Americanos não aceitam a idéia de ter que conviver com o terror no seu quotidiano como os Israelenses por motivos culturais e históricos tiveram que fazer. Hoje o prefeito de New York conclamou os seus habitantes a ficarem alerta a pacotes deixados na rua… Os Israelenses fazem isso a décadas, batalhando para sobreviver como país cercado de milhões de muçulmanos e ataques terroristas desde a criação dos Kibutzim (fazendas coletivas) no começo do século passado. E com um agravante: não têm território para recuar, pois a retaguarda sempre foi os próprios lares dos soldados… Isto nem de perto é a realidade americana que se acostumou a pegar o avião ou navios para ir combater seus inimigos em seus próprios territórios, longe do sagrado e bucólico subúrbio das suas cidades.
A passividade de Obama em tomar posições e medidas drásticas contra o terror fundamentalista islâmico (no que é acompanhado pelos europeus) e a imagem que Mrs. Clinton tem de ser seu alter ego de saias, pode a esta altura estar decidindo as eleições americanas de Novembro. Outra frustração da grande classe media americana é ver seus impostos financiarem as forças armadas mais poderosas da historia mundial que, entretanto só treinam e desfilam (ou fazem filmes de Hollywood) e não conseguem desfechar uma resposta a altura contra o terror fundamentalista islâmico.
Os únicos modos de se combater este novo câncer da sociedade globalizada moderna dizem os israelenses, é estar sempre um passo na frente de suas intenções (inteligência e coleta de dados) e dar uma resposta N vezes maior quando o infortúnio acontece. Mad ainda falta a vontade política de lidar com quem comanda, financia, ensina e dá a conotação religiosa e ideológica ao terror. Os europeus e americanos também criticam a política de eliminação seletiva dos israelenses, feita com eficiência tecnológica para causar o menor impacto em civis inocentes. Sua eficiência é puro resultado da sua necessidade de sobrevivência, uma resiliência que não existe por aqui nem na Europa, que sofre com a insegurança e o custo altíssimo do terror, mas pouco faz externamente por motivos políticos e comerciais e internamente por razões sociais.
Israel bem que continua avisando. ( E Trump continua agradecendo…).
Roberto Musatti
Economista (USP) Mestre em Marketing (Michigan State)
Doutorando (CIBU-San Diego)