O próximo prefeito de Salvador terá pela frente o desafio de estimular a criação de empregos no momento em que o país vive uma crise econômica. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 17,6% dos moradores da capital baiana com mais de 14 anos estavam desempregados no segundo trimestre – abril, maio e junho – de 2016. No primeiro trimestre, a taxa foi de 17,4%. O percentual fica acima da média nacional, que é de 11,3%, o que faz com que Salvador figure entre as capitais com o maior número de desempregados do país.
De acordo com o professor de direito constitucional e ciência política da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Gabriel Marques, quem comandar o Palácio Tomé de Souza terá o desafio de gerar postos de trabalho em uma cidade historicamente carente de vagas.
“Isso [desemprego] se reflete por vários fatores, como formação econômica, a falta de um acesso qualificado ao mercado de trabalho, muita ocupação informal na cidade. Então, eu diria que é o grande ponto a ser enfrentado. A gente sabe que não é um ponto exclusivamente municipal, até porque estamos numa crise econômica nacional. Mas eu diria que, nesse cenário de quem vier a assumir a partir das eleições, eu acho que o emprego seria a questão número um”, diz o especialista.
Segurança pública
Nas redes sociais, internautas também abordam a questão da segurança pública. Para o cientista político, os candidatos pouco abordaram o tema nos debates. Um dos motivos é porque a Constituição atribui a maior responsabilidade ao governo do estado, e não ao município, a quem cabe administrar e otimizar a atuação da Guarda Municipal e agir em menor proporção.
“A nossa Constituição entrega [a segurança pública], particularmente, na esfera da repressão, aos estados. A gente percebe que a Polícia Militar é vinculada ao governador, também tem a polícia de investigação, que é a Polícia Civil. Então, os municípios têm contato com esse tema, geralmente com a Guarda Municipal. O curioso é que a Constiruição não fala da Guarda Municipal voltada, expressamente, à segurança pública, mas para a proteção de bens e patrimônios da cidade”, diz Marques.
Para a conselheira de Direitos Humanos, Sandra Muñoz, o novo gestor municipal deve pensar na criação de políticas públicas voltadas para a garantia dos direitos humanos, “sobretudo das mulheres negras, que são em grande quantidade em Salvador” e, muitas vezes, preteridas de empregos e escolarização.
“É importante entender que política para as mulheres é política da diversidade. Por exemplo, não dá para fazer política para mulheres, em pleno século 21, e excluir as mulheres transexuais, as negras, as indígenas, as ciganas, as mulheres com deficiência”, diz a ativista.
Sandra Muñoz destaca que a garantia dos direitos para as mulheres passa pela criação de creches municipais. “Não dá para falarmos de violência contra a mulher, o tempo todo, sem discutir e pensar na questão fundamental das creches. Não adianta o pagamento de uma bolsa de R$ 50. Quem cuida de uma criança por esse valor? É importante ter boa vontade e acreditar nas políticas públicas, principalmente para nós mulheres”.
O professor Gabriel Marques também ressalta a necessidade da implantação de uma agenda que contemple a diversidade. “O negro aqui – embora saibamos da sua importância cultural e histórica – ainda sofre discriminação e o racismo é uma realidade. Boa parte dessa população desempregada sobre a qual falamos, infelizmente é formada por negros, muitas vezes sem acesso à qualificação profissional. A própria criminalidade, vitima muito mais negros, pobres das periferias de Salvador”, completa.