Pesquisa realizada e divulgada recentemente pela ONG chilena Latinobarómetro, revela que apenas 32% da população brasileira se diz apoiadora da democracia. Esse dado é extremamente preocupante! E preocupante, sobretudo, se se perguntar quais seriam as alternativas à democracia que defenderia essa parte da população. Mas, antes de nos preocuparmos, com essa questão, que, é provável, muitos não saberiam responder, cabe também perguntar, qual a origem dessa forma de sentir da maioria dos cidadãos?
Sem sombra de dúvida, após a redemocratização, o país conseguiu expressivo sucesso na implantação e manutenção de alguns aspectos fundamentais da democracia, como eleições periódicas asseguradas, garantia de representatividade popular (ainda que de qualidade questionável) e instituições razoavelmente sólidas, só para citar alguns exemplos. Onde está, então, a raiz do problema?
A raiz do problema é que os governantes e políticos, a quem cabe o cuidar institucional da democracia, só enxergam esse lado da questão, que é o, por assim dizer, mais visível, e não levam em conta que esses aspectos são os que menos interferem na qualidade de vida do cidadão comum.
A prática democrática que garante igualdade de oportunidades para todos, acesso equitativo à saúde e educação de qualidade, infraestruturas mínimas que garantam uma vida em segurança e digna para todos, o que permitiria um sentimento generalizado de felicidade, está completamente abandonada. Em função disso, a população tem o amplo sentimento de que a democracia não é um bom regime político. Ela não protege seus filhos. Ela seria a responsável pela existência de uma casta de privilegiados que vivem de regalias, às custas dos mais desfavorecidos, ela seria a origem e a alimentadora da corrupção que ronda todos os setores do governo e que mina as camadas mais desprotegidas da população, seria a mãe de todas as vicissitudes que fazem parte do dia-a-dia do cidadão comum.
Qual o perigo que ronda um tal sentimento generalizado? Que um ditador populista, um político ainda mais inescrupuloso, um aproveitador sem limites, se valha do apoio da imensa massa de descontentes com a democracia, para se lançar em uma aventura da qual todos nós, inclusive os descontentes (com razão, ainda que sem o completo alcance do que isso poderia significar), podemos vir a sentir as enormes consequências. A democracia é uma plantinha frágil, um bebe recém nascido, que necessita de cuidado constantemente para que possa crescer e se fortalecer. E ela não se fortalece pela mera aplicação de práticas de cunho representativo-institucional, mas por garantir aos cidadãos as condições que lhes proporcionem uma vida digna e plena.
*Professor da Unesp de Ilha Solteira.