“Fui no Tororó beber água não achei/Achei linda Morena/Que no Tororó deixei”, diz a cantiga popular. Numa paródia simplista, me …atrevo a dizer: “Fui à Bienal ver Arte não achei/Achei lindos sonhos/Que na Bienal deixei”.
Sim, a 32ª edição da Bienal de São Paulo, ao contrário do que esperava, me alimentou com novos sonhos e expectativas, trazendo um arejamento e uma respiração saudável para a arte praticada no país. Nesse sentido, vou dar dez exemplos e justificativas que comprovam a paródia acima. Tudo breve como precisa ser hoje, mas com um mínimo de fundamentação.
Erika Verzutti (Brasil) nos leva para a história da arte, num passeio por imensos painéis que também nos transportam para a lua e para universos pré-históricos. Hito Steyerl (Alemanha) concretiza uma síntese do mundo contemporâneo com violência, música, robôs e humor, sem limites muito claros entre essas esferas.
Jordan Belson (EUA) mistura Oriente e Ocidente numa mescla de códigos científicos e simbólicos, seja em vídeo ou com tinta sobre papel. Kathy Barry (Nova Zelândia) apresenta aquarelas com extrema liberdade que conquistam o espaço e a ampliam a capacidade de imaginar, rompendo limites.
Luke Willis Thompson (Nova Zelândia) traz à morte para a exposição, com um cemitério real, que será devolvido ao local de origem, alerta contundente para uma sociedade que valoriza em demasia a vida. Michal Helfman (Israel) atinge qualidade estética e reflexão existencial, utilizando a linguagem do vídeo para refletir sobre a intolerância.
Naufus Ramírez-Figeroa (Guatemala) estabelece casamentos entre instalação, performance, desenho e gravura em que a qualidade artística caminha ao lado da indignação com as ditaduras. Öyvind Fahlström (Brasil) traz um conjunto inesquecível de trabalhos, com destaque para serigrafias que trazem uma visão de mundo muito particular, plena de cores e de crítica social.
Wilma Martins (Brasil) gera impacto pela habilidade e delicadeza ao lidar com pinturas e aquarelas e com os cheios e vazios da superfície bidimensional. E, por fim, Wlademir Dias-Pinho (Brasil) cria colagens digitais e em papel de elevado impacto, que nos dão à vontade permanente de “quero ver mais”, num império de cores e sentidos.
A cantiga popular diz: “Aproveita minha gente/Que uma noite não é nada/Se não dormir agora/Dormirá de madrugada’. Eu digo: Aproveita esta exposição/Que uma visita não é nada/Quem não for agora/Perderá esta empreitada”.
*Doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, em São Paulo.