Estudos mostram que a inovação, conceito ligado à ciência e à tecnologia, assume papel cada vez mais importante para o crescimento econômico sustentado. Cálculos econométricos apontam que a mera disponibilidade de máquinas, infraestrutura e trabalhadores não explicam a totalidade do processo de crescimento da produção. Nas economias desenvolvidas a expansão econômica se mostra extremamente dependente da inovação, e da maior capacitação da mão de obra que esse processo demanda.

A ideia consolidada nas principais economias do mundo é que sem inovação não há crescimento econômico de longo prazo. Isso se torna mais evidente com o aprofundamento da integração entre as nações. Com a expansão dos mercados há maior especialização de países e regiões e essa nova divisão do trabalho demanda aperfeiçoamento constante para manter a competitividade das economias.
A inovação relacionada à globalização está atrelada à nova configuração global da produção gerada a partir dos anos 80 com a redução de barreiras alfandegária em vários países, à abertura da China e da Índia ao comércio e aos investimentos internacionais e à dissolução da União Soviética. A economia mundial se tornou mais integrada e a dimensão dos mercados se ampliou de modo extraordinário. Nessa formatação, a competitividade ficou mais atrelada à especialização. As economias desenvolvidas como a dos Estados Unidos, Europa e Japão ampliaram a concentração da estrutura produtiva global na fase de projeto dos produtos. Nos países com abundância de recursos naturais, mão de obra barata e amplo mercado consumidor houve a especialização em termos de fornecimento de insumos e de mão de obra para o processo.
No novo sistema mundial de produção, denominado como cadeia global de valores, a China e a Índia se tornaram, respectivamente, a fábrica e o escritório do planeta por conta do baixo custo com mão de obra. A Rússia se tornou um grande ator internacional em função de suas grandes reservas de recursos naturais e pela base tecnológica desenvolvida durante a Guerra Fria.
E o Brasil como anda nesse quesito? Qual a situação do país em relação à inovação e sua integração com o resto do mundo?
Ao Brasil coube o papel de fornecedor de produtos minerais e de alimentos para o resto do mundo. Boa parte desse papel foi gerada pela relação bilateral do país com a China. Os chineses como principais processadores de matérias primas do planeta passaram a demandar produtos brasileiros de baixa tecnologia, como minério de ferro e soja em grão. Por conta dessa situação, a economia brasileira segue participando com mísero 1% do comércio internacional e fica à margem das cadeias globais de valor, nicho que compreende bens e serviços com elevado grau de absorção tecnológica e que movimenta mais de US$ 20 trilhões anualmente, ou 60% do comércio mundial.
A debilidade da estrutura de inovação brasileira fez com que o país se mantivesse como mero exportador de produtos primários e de recursos naturais com baixo nível de processamento, enquanto outros emergentes se especializaram em bens de média e de alta tecnologia. É preciso mudar o foco e investir em projetos voltados à inovação que coloque a economia nacional na era que se convencionou chamar de indústria 4.0, ou indústria digitalizada. Eis minha principal diretriz à frente da Finep.

Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas. É presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).