O sistema universitário brasileiro é predominantemente privado. Assim permaneceu mesmo com o crescimento de sua porção pública federal, nas duas últimas décadas. Com o agravante de que o segmento privado é constituído principalmente por faculdades, centros universitários e algumas universidades que se limitam a oferecer ensino superior de massas (ou seja, diplomação com baixa densidade formativa).
Essas instituições de ensino superior “de mercado”, inclusive – pelos preços menores que praticam (já que oferecem basicamente cursos de baixo custo, que não requerem mais do que salas de aula e instrutores como infraestrutura) – colocaram em crise (basicamente por concorrência desleal, consentida pelos órgãos reguladores) as chamadas confessionais (PUCs, metodistas etc.) e comunitárias, que vinham oferecendo ensino de qualidade, mas, evidentemente, a preços maiores (pois começaram a ter carreira docente, políticas acadêmicas, pesquisa – elementos constitutivos de verdadeiras universidades). Ou seja, dentro do segmento ruim, o pior se sobressaiu, nos últimos anos. O mercado educacional para as classes C e D (que corre atrás de “capital humano”, no sentido mais pobre do conceito) está em alta e grupos internacionais estão aí para aproveitar a onda.
Paralelamente, as universidades públicas federais e as estaduais, entram em fase de penúria, com a crise econômica. Não bastasse isso, estão sendo alvo de ataques virulentos na mídia, quase que diariamente. O que estão fazendo com a USP, um dos símbolos da universidade brasileira pública e de qualidade, é simplesmente inacreditável. O sistema universitário paulista enfrentará nos próximos anos uma prova duríssima para sobreviver. Se vencê-la, restará desbastado de suas potencialidades. É sintomático, inclusive, que isso ocorra exatamente no momento em que o acesso às universidades públicas começou a dar passagem para jovens pobres.
A incapacidade, até agora, de professores, pesquisadores, funcionários e estudantes, para defender as instituições universitárias a que pertencem, somada à indiferença acachapante da opinião pública potencialmente favorável a respeito e à truculência dos governos nessa frente, faz crer que em breve algo digno do nome de universidade desaparecerá no Brasil. Exatamente num momento em que o país mais precisa de talentos talhados em espaços formativos de alto nível. Vitória de quem?
*Economista, professor e pesquisador do Departamento de Administração Pública da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara.